quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
O cheio e o vazio
O meu bairro, por vezes, parece uma sede das Nações unidas: tem gente dos quatro cantos do mundo!
(A propósito: porque raio dizemos “4 cantos” quando o mundo é redondo e tem 5 continentes?)
Seja como for, temos por cá gente das Africas, das Américas, das Europas, das Ásias. Falta a representação das Oceânias, mas também não conheço todos os residentes.
Pois hoje tive contacto com uma representante de um desses grupos étnicos: Ásias. Trata-se de uma comunidade muito fechada sobre si mesma, com a qual é realmente difícil estabelecer relações. Aliás, prima pela discrição da sua existência, tanto no espaço público como no comércio. Praticamente só são visíveis e contactáveis no seu próprio comércio, a chamada “loja do chinês”.
Em dia de aguaceiros e de previsível greve dos transportes rodoviários el Lisboa, os comboios suburbanos estão bem mais vazios. Suponho que a maioria optou por usar viatura própria ou uma boleia simpática de um conhecido.
No cais, quase vazio, uma senhora que suponho chinesa tinha dúvidas em como chegar a uma dada estação. Aliás, tinhas dúvidas a esse respeito e em relação à língua, que praticamente nada falava de português.
Mas lá nos fizemos entender, ela a perguntar, eu a responder. Tanto no cais como já a bordo do comboio quando, mais tarde, lhe indiquei onde descer.
No entanto, e apesar do isolamento cultural e social do seu grupo étnico, apesar da terrível dificuldade no uso da língua, uma expressão conhece, que pronuncia muito bem e que acompanha com um sorriso rasgado: “Obrigada!”
É bem curioso e triste que os meus compatriotas tanto estejam a esquecer o uso deste vocábulo – e do que lhe está associado – e que tenha que vir gente de tão longe e com culturas tão díspares e antigas para nos recordar amiúde que a palavra existe, que se pode usar e que sabe bem pronuncia-la e ouvi-la.
O cais estava quase vazio. Mas vim de lá de barriga cheia de satisfação!
Texto e imagem: by me
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