quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Por uns minutos



Os meus horários de acordar a meio da noite para ir trabalhar fazem com que, igualmente, os horários das refeições sejam um pouco fora do comum.
Assim, eram umas seis horas quando regressei do café onde o compro. O céu, pesado, já em lusco-fusco e ameaçar uma noite de tormenta, ainda mostrava umas abertas tímidas. Lembrando-me eu da data e do que havia visto na véspera, não parei à porta de casa e prolonguei o caminho por mais uns cinquenta metros, até à esquina. Com um pouco de sorte…
E a sorte sorriu-me (disse-me alguém, há anos, que a sorte é quando a oportunidade encontra a preparação).
Lá ao fundo, por cima do descampado que compõe as traseiras do meu prédio e uma mão-travessa acima do horizonte, a Lua. Mostrando-se quase completamente redonda, ia dando um ar da sua graça numa nesga entre nuvens. Quase parecendo que estas a iriam tapar, tornando fugaz aquele momento de comunhão. Pensando nisso, arredei de mim a ideia de ir buscar a “tralha” para fotografar. Provavelmente não viria a tempo de a encontrar ainda descoberta. E deixei-me ficar.
Mas a sorte, mais que rir, gargalhou abertamente para mim. À medida que ia subindo no céu, as abertas como que iam acompanhando o seu movimento, mantendo-a brilhante e impoluta. E eu ali parado, com o ventinho a criar-me pele de galinha, mas firme no degustar daquele espectáculo.
Por mim foram passando carros e peões, todos com a pressa de quem passou o dia trabalhar e que há que chegar a casa com o pimpolho pela mão antes que escureça de vez ou a chuva venha. O olhar que alguns me deitavam, de barba e cabelo a dançar ao vento, saco de papel com pão na mão e a olhar para lá, para o céu e para longe, não dava azo a grandes erros sobre o que de mim estariam a pensar. Mas a isso já eu estou habituado e não me tira o sono. Só lamento que não tenham parado uma nica para também gozarem o que me estava a dar prazer.
A chuva, miudinha e fria, acabou por vir e eu recolhi a casa. De pão meio molhado no saco, de alma cheia e a certeza de que há coisas que, mais que registar no frio da electrónica, ficam ad eternum na memória.
Que aquela lua, a subir meio envergonhada, parecia a Nini, a dançar só para mim. (http://soundcloud.com/datreta/oldie)
A fotografia? Quase tão redonda e branca quanto a Lua, e certamente tão efémera quanto aquilo que vi.

Texto e imagem: by me

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