domingo, 3 de agosto de 2008

Um não olhar!


Vinte anos!
Deveriam ser radiantes, ocupados em terminar um curso ou num emprego satisfatório ou a olhar desvanecida um namorado que lhe enchesse a alma.
No lugar disto, vive mais ou menos fechada no apartamento que partilha com pais e irmãos. Nada lê, pouco usa o computador que ali existe e ficou-se pelo 7º ano de escolaridade.
Posta a questão do porquê, foi-me dito que tinha um problema grave nos olhos, que pouco vê e que aguarda um transplante na lista de espera de um hospital central.

Estas vivências não acontecem numa qualquer aldeia rural, em que o presente e o futuro passam por uma horta ou um pomar, com as mãos no tanque da roupa e na panela do fogão.
É mesmo no séc. XXI, num bairro suburbano de uma capital da União Europeia. Onde se apregoam as igualdades de oportunidades e direitos e onde se afirma que o acesso aos cuidados de saúde é para todos os cidadãos!

E não! Estes não são os olhos desta nossa conterrânea! Que os meus toldam-se ao olhar para os dela!
E, nestes aqui, não encontro o desencanto do presente e o descrédito no futuro.
Vinte anos!



Texto e imagem: by me

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