quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Perigos no sub-solo


É daquelas coisas que me incomoda e de várias formas!
Já deixou de ser moda, para passar a ser habitual, o encontrarmos painéis de vídeo nos cais do metropolitano de Lisboa.
Por si mesmo não seriam problemáticos, não fora dois aspectos, qual deles o mais perigoso. A saber:

Misturado com publicidade e videoclips, surgem pequenas sequências de imagens com textos acoplados, a que se pode dar o nome de “notícias”. E a questão põe-se no facto de estas não possuírem identificação do responsável editorial. Quem selecciona temas, quem selecciona as imagens, quem selecciona os títulos, quem escolhe entre que clip de música ou de publicidade surgem.
E a questão editorial não é de somenos importância! É por se saber quem é o editor que se pode dar, ou não, credibilidade ao que ali vemos ou ouvimos. A credibilidade que damos a um periódico impresso como seja o jornal “Público” não é, certamente, a mesma que damos um outro que tenha o nome de “O crime” ou “A merda” ou “Incrível”, para citar apenas três que estiveram nas bancas até há alguns anos.
E a questão da credibilidade e da responsabilidade de um conjunto de notícias acaba por ser da maior importância, já que estas condicionam, gostemos ou não, os comportamentos da sociedade. O exacerbar determinado assunto, o omitir determinado pormenor, o ter uma opinião não isenta, pode e leva os receptores a formarem uma ideia do que se passa em redor que poderá não corresponder à verdade mas tão só às vontades de quem divulga o que ali se consome.
Daí a importância de se conhecer o ou os responsáveis pela informação para que possamos aceitar e consumir ou rejeitar liminarmente.
Notícias anónimas são tão perigosas quanto boatos ou cartas com antraz!

O outro aspecto igualmente perigoso é a forma como essas mesmas notícias – e publicidade, já agora – chegam aos passageiros que aguardam o comboio no cais: visualmente e auditivamente. Trata-se, de facto, de um suporta audiovisual.
Mas acontece que quer se queira quer não se queira consumir o que ali é apresentado não há como o evitar. Que se podemos desviar a nossa atenção visual de um dado ponto, já o mesmo não conseguimos fazer com o som. A menos que tapemos os ouvidos.
Desta forma, os tais conteúdos não assinados e responsabilizados chegam ao conhecimento deste público específico mesmo contra sua vontade.
Pior ainda: por entre os sons emanados pelos demais passageiros no cais e restantes origens sonoras, aquelas mensagens acabam por entrar na mente de quem ali está quase que sem que nos apercebamos de tal. Tanto as publicidades que nos podem levar a consumir produtos como as notícias que nos podem levar a tomar posições ou decisões no quotidiano. É uma espécie de lavagem ao cérebro que sabemos que está a acontecer e que não podemos evitar.

Ainda que possa parecer rebuscado, recordo de novo o clássico “1984” de Orwell, onde ver televisão era uma tarefa obrigatória para todos os cidadãos e cujo incumprimento era ou poderia ser punido pela polícia.
E o que se torna triste neste relembrar este romance, é que ele tem mais de cinquenta anos, já que foi escrito em 1948, misturando o regime Nazi com o que vigorava na Rússia, na Grã-bretanha e nos Estados Unidos. Tudo por atacado, numa antevisão por muitos considerada exagerada, quiçá dantesca, mas que, aos poucos, vamos constatando a sua implementação.


Texto e imagem: by me

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