quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Dois cartazes, costas com costas


Em saindo do trabalho e fazendo um trajecto a pé não habitual, eis que dou com este painel publicitário. Bem junto da rodovia, está colocado de forma a que a sua mensagem seja vista por quem vai de automóvel.
E aquele que primeiro vejo e que me chama de imediato à atenção é o da esquerda na fotografia.

No topo, uma frase imperativa: “Faça a sua voz ouvir-se nas decisões do seu município.
Mais em baixo lê-se: “Seja responsável. A voz de cada um conta. Diga, sempre, o que tem a dizer. Participe.
E é patrocinado pela “Associação Nacional dos Municípios Portugueses
Não poderia estar mais de acordo! Aliás, ainda que não no poder local, faço isso mesmo, ou seja, digo o que entendo, quando entendo, onde entendo, perante quem eu entendo e como entendo!
Em qualquer dos casos, a mensagem está com graça, já que se vê alguém a gritar com um megafone virado para o céu (para os deuses?), sendo a base uma barra vermelha e atrás desse alguém um prado verde. Uma alusão subtil à bandeira e à nacionalidade. Igualmente subtil o facto de quem assim está ser um jovem.
É um apelo quase desesperado à participação dos jovens na coisa pública, na cidadania!

O que acaba por ter piada também (ou não!) é que este cartaz não é visível por quem for a conduzir ou conduzido numa viatura. Está virado para baixo, para onde seguem os carros e só quem vier a pé o verá. E, neste local, poucos serão. Muito poucos mesmo!
Aliás, e como se vê na imagem da direita, após o cartaz não é permitido estacionar ou parar.
Donde, o apelo à participação do cartaz acaba por ser como ele mesmo: virado para o céu, para o vazio, para onde não estará ninguém.

Em contrapartida, o outro lado do mesmo painel publicitário (fotografia da direita), aquele lado que é visível por quem for de automóvel, apela à compra de um colar. Ainda que em inglês, a publicidade diz que: “A vida tem os seus momentos… Torne-os inesquecíveis.
O colar, com três cores (vermelho, verde e azul sobre metal) assenta em fundo branco. As três cores primárias em cima do imaculado. E com a indicação do significado de cada uma das cores: “Noites quentes de verão, dias de praia fantásticos, fins de tarde inesquecíveis”.
Começando pelo simples facto de, se os momentos são importantes, realmente importantes, não nos esquecemos deles.
Segue-se o simbolismo de cada uma das cores ser representada por seis esferas, sempre um número par, o casal, o romantismo.
Remata-se com a marca da preciosidade: “Pandora”. Aquela que possui todos os dons ou a que é dom de todos os deuses, a mulher, a primeira mulher, criada por Zeus. Ou, ainda, aquilo que gera curiosidade, mas que é melhor não ser mostrado sob pena de se vir a mostrar algo de terrível, que possa fugir ao controlo. (in: wikipedia.com). Por outras palavras, tem todos os ingredientes do pecado ou da sedução.
Igualmente curioso é o facto de não nos dizer onde se vende nem quanto custa.

É assim que, analisando as opções de quem gere o espaço publicitário de rua na capital, entende-se que é bem mais importante vender jóias ou bijutaria apelando à sedução e ao romance que convencer os jovens a participar activamente na vida da comunidade, influindo na gestão do poder local.
A futilidade acima da cidadania.



Texto e imagem: by me

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