segunda-feira, 13 de abril de 2015

Raisma partam



Durante anos este edifício esteve abandonado. Durante muitos anos, mais de dez, se não estou enganado.
Nunca soube ao certo o porquê. Talvez que pelo aspecto estranho. Foi desenhado pelo polémico arquitecto Tomáz Taveira, creio que edificado pouco tempo depois das torres das Amoreiras, em Lisboa. Era conhecido – pelo menos entre o meu círculo de conhecimentos – como o prédio do totobola, uma alusão às cruzes que se inserem no boletim.
Talvez que o abandono se prendesse com questões legais. Ou com o preço pedido. Ou a sua localização que, à época, não seria das mais famosas, entre o Cais do Sodré e Santos.
Seja como for, esteve muito tempo sem uso.
Depois mudou-se para cá o IADE. Não sei se pelo preço, se pela localização, se pelo desenho interior, se pelo desenho exterior. O certo é que se tornou no edifício do IADE, frequentado por alunos e professores de artes, comunicação, publicidade… fotografia incluída.
Hoje, depois de anos de não lhe prestar atenção, passei por ele. E dediquei-lhe algum tempo. Entre outros motivos por ter lido há uns dias que esta “universidade” teria sido comprada por uma congénere americana, junto com uma outra cujo nome não fixei. E fui olhando.
Para além de no exterior e no átrio de entrada haver frases, nomes e “boas-vindas” em inglês, algo houve que me deixou realmente estupefacto. E furioso.
No exterior, em frente da porta, vários grupos de alunos aproveitavam o ar e o sol. Um grupo maior e alguns mais pequenos.
No entanto… eram todos iguais. Cinzentos nos trajes, com roupas das mesmas marcas, mochilas das mesmas marcas, óculos iguais, até os penteados pareciam terem sido feitos pelos mesmos pentes. Iguais.
Raismapartam!
Se é verdade que os jovens precisam de se identificar com um grupo, é igualmente verdade que procuram um lugar ao sol – o seu lugar – batendo-se pela diferença e afirmação. Mais ainda seria de esperar numa instituição de ensino superior onde a criatividade é a pedra de toque e onde se espera que cada um seja criativo à sua maneira e diferente de todos os outros.
Não era, garantidamente, o que se via naquele montão de mais de trinta jovens, em idade de contestação e inovação!
Esperaria encontrar esta forma de estar numa universidade convencional, como Direito, ou História, ou Linguista, algo ligado à formalidade e ao rigor das regras e factos.
Agora num local como este!?

Se os estudantes de áreas criativas de hoje têm esta atitude formal e conservadora, cinzenta, amorfa, como exercerão o ofício que aqui aprendem?


Ou talvez que seja eu que estou errado, e o futuro da sociedade, criativos incluídos, seja a uniformidade, o cinzentismo, gente que tem um microchip implantado e responde a um número.

By me

Sem comentários: