segunda-feira, 22 de julho de 2013

Disparando à toa



Curioso é pensar no termo usado para o carregar no botão que provoca uma fotografia: “Disparar”. Em inglês, a mesma coisa: “Shoot”.
A analogia que se pode fazer com o outro “disparar”, o do gatilho de uma arma, é terrível.
Em ambos os casos, o fotógrafo interpreta o seu gesto como o de caça, o “abater” o assunto fotografado. E a consequência é, em regra, mais um troféu, pendurado numa parede, exibido numa página web ou religiosamente guardado num álbum mais clássico. Eventualmente, divulgado nos media.
Mas o assunto foi alvejado, abatido e guardado.
E a câmara usa-se como quem usava uma arma à cintura ou atravessada nas costas: pronta a usar sobre os alvos que interessassem guardar ou aniquilar.

Curioso também é a falta de respeito francamente manifesta sobre o assunto alvejado.
Fotografa-se aleatoriamente, sobre uma cara bonita ou um corpo em necessidade, sem mesmo se saber se o seu dono ou dona o autoriza. À surrelfa, como que emboscado por entre as folhas de uma mata. E quanto mais discreto for o disparar, quando menos o alvo disso se aperceber e não agir em conformidade, melhor. São os troféus espontâneos, a chamada “street photography”, como hoje está na moda dizer.
A vontade das pessoas assim abatidas pouco conta: “Que diabo, sou um fotógrafo! Não vê a câmara, que cara e sofisticada que é? É meu direito usa-la sobre tudo e todos que estejam ao seu alcance!”

O que não é sofisticado, nada sofisticado, é o procedimento de quem dispara.
Ser fotógrafo implica uma boa dose de voyerismo. Mas não respeitar o que se fotografa, fazendo-o e usando-o à revelia do conhecimento e vontade do fotografado, é a coisa mais rasca e baixa que se pode fazer na nobre actividade de fotografar. É como quem, com binóculos, espreita o tomar banho e vestir da vizinha ou vizinho, pelas janelas que estão abertas.


Para esses tais de “fotógrafos”, o meu olhar de desprezo! E o meu olhar de tristeza para uma sociedade que, vítima de si mesma, cada vez menos respeita o individuo e a privacidade!

By me

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