Tenho que admitir que fui mauzinho, mas não resisti!
Vi-a aproximar-se. Fins dos 60’s, principio dos 70’s, bem vestida e com um andar firme. Ao passar pelo chafariz (avariado e sem torneira, por sinal), parou. Deu meia volta, abeirou-se de um canteiro florido e colheu um ramalhete. Não uma nem duas mas um ramalhete de flores.
Não gostei! Não gostei nem um bocadinho! Claro que elas estão ali, sem redes nem guardas. Mas tenho para mim que, ainda que sejam pagas pelo erário público, ou por isso mesmo, as devemos lá deixar ficar, para nosso prazer e dos que em seguida vierem. Mas como ela não terá sido a primeira nem, infelizmente, será a última, deixei-me ficar, registando para mim o facto. Nada mais.
Depois de as ter composto na mão, retomou a marcha. Para os meus lados. E quando deu com os olhos no meu artefacto, inflectiu o rumo e aproximou-se.
Às saudações habituais, de quem está bem disposto consigo e com o mundo, acrescentou a questão de, estando eu por ali, porque não iria eu também ao Jardim da Parada, ali em Campo de Ourique?
Lá lhe respondi, cortês mas sem grandes sorrisos, que gosto mais do da Estrela (ainda que já lá tenha estado e até nem me tenha desagradado. É uma alternativa possível.)
Quando me perguntou pelo preço, não perdoei! Disse-lhe que eram grátis mas não roubadas, como as flores que tinha na mão! E que se todos fizessem como ela, nenhuma restaria para vermos e gostarmos!
A resposta? Bem, foi sublime!
Disse que sabia ser pecado; Que antes mesmo de as arrancar tinha pedido perdão a deus; Que eram para a sua neta, pelo que seriam para uma boa causa; Que ela mesma até era muito piedosa, alimentando mais de vinte gatos vadios lá na rua dela, sem pedir nada a ninguém.
Os deuses perdoam, os burros esquecem! Não sendo eu nem uma coisa nem outra, quando acrescentou que haveria de passar por ali de novo, desta feita com a neta, para “tirar” uma fotografia, sempre lhe disse que logo se veria se me apeteceria ou não fazê-la.
Olhou para mim uns segundos, sorriu como se tivesse acabado de me perdoar de uma terrível blasfémia e seguiu o seu caminho sem mais uma palavra.
Não sei se lhe recordarei a cara caso regresse daqui a uns dias. Mas se a memória me não falhar e ela voltar, fotos minhas de borla não terá!
Manias minhas, que até gosto de ver as flores nos jardins!
Texto e imagem: by me
Vi-a aproximar-se. Fins dos 60’s, principio dos 70’s, bem vestida e com um andar firme. Ao passar pelo chafariz (avariado e sem torneira, por sinal), parou. Deu meia volta, abeirou-se de um canteiro florido e colheu um ramalhete. Não uma nem duas mas um ramalhete de flores.
Não gostei! Não gostei nem um bocadinho! Claro que elas estão ali, sem redes nem guardas. Mas tenho para mim que, ainda que sejam pagas pelo erário público, ou por isso mesmo, as devemos lá deixar ficar, para nosso prazer e dos que em seguida vierem. Mas como ela não terá sido a primeira nem, infelizmente, será a última, deixei-me ficar, registando para mim o facto. Nada mais.
Depois de as ter composto na mão, retomou a marcha. Para os meus lados. E quando deu com os olhos no meu artefacto, inflectiu o rumo e aproximou-se.
Às saudações habituais, de quem está bem disposto consigo e com o mundo, acrescentou a questão de, estando eu por ali, porque não iria eu também ao Jardim da Parada, ali em Campo de Ourique?
Lá lhe respondi, cortês mas sem grandes sorrisos, que gosto mais do da Estrela (ainda que já lá tenha estado e até nem me tenha desagradado. É uma alternativa possível.)
Quando me perguntou pelo preço, não perdoei! Disse-lhe que eram grátis mas não roubadas, como as flores que tinha na mão! E que se todos fizessem como ela, nenhuma restaria para vermos e gostarmos!
A resposta? Bem, foi sublime!
Disse que sabia ser pecado; Que antes mesmo de as arrancar tinha pedido perdão a deus; Que eram para a sua neta, pelo que seriam para uma boa causa; Que ela mesma até era muito piedosa, alimentando mais de vinte gatos vadios lá na rua dela, sem pedir nada a ninguém.
Os deuses perdoam, os burros esquecem! Não sendo eu nem uma coisa nem outra, quando acrescentou que haveria de passar por ali de novo, desta feita com a neta, para “tirar” uma fotografia, sempre lhe disse que logo se veria se me apeteceria ou não fazê-la.
Olhou para mim uns segundos, sorriu como se tivesse acabado de me perdoar de uma terrível blasfémia e seguiu o seu caminho sem mais uma palavra.
Não sei se lhe recordarei a cara caso regresse daqui a uns dias. Mas se a memória me não falhar e ela voltar, fotos minhas de borla não terá!
Manias minhas, que até gosto de ver as flores nos jardins!
Texto e imagem: by me
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