Alguém comentou
que “isso ninguém tem o direito de fazer”.
Isto sobre escritos
nas paredes ou graffitis.
Vejamos o que é “Ter
o direito de…” na actual sociedade:
Gente a passar
dores e sofrimento, mesmo que na infância, porque não há meios para
tratamentos.
Gente que toda a
vida pagou, obrigatoriamente, um contrato de reforma com o Estado e este,
unilateralmente, altera os termos desse contrato, pagando menos que o
combinado.
Ver crianças e
adolescentes saírem de casa para a escola de barriga vazia, à espera do almoço
a meio do dia, porque essa será a única refeição completa que terão de segunda
a sexta. Que ao sábado, domingo, feriados e férias não há aulas.
Ver painéis publicitários,
anunciando electrónica de consumo, jóias ou passagens aéreas de turismo,
bloqueando a passagem a deficientes motores ou visuais. E pagando as
respectivas licenças camarárias.
Ver gente com
diferendos legais com grandes empresas ou o Estado, perderem as causas porque não
têm como pagar advogados especialistas em retorcer as vírgulas da lei.
Ver gente, com crianças
pequenas pela mão, numa fila já depois do sol pôr e ao frio, para receber um
saco de comida que não têm como aquecer durante toda a semana.
Quando ninguém
tiver o direito de viver isto, quando ninguém for obrigado a viver isto, fará
todo o sentido que os protestos se façam em exclusivo pelas vias legais,
parlamentares e policiadas.
Até lá, todas as
vias serão válidas, mesmo aquelas que estão subjacentes ao ditado popular “Os
fins não justificam os meios”.
Porque,
entenda-se, o que realmente incomoda nos escritos públicos nas paredes, mais
artísticos ou meros rabiscos, é o carácter permanente das mensagens subversivas
que possam conter. Que as manifestações funcionam a prazo, depois de eleitos os
políticos agem em função dos seus próprios interesses e os referendos não têm carácter
vinculativo. Mesmo a comunicação social é manipulavel em função dos poderes instituídos,
vergando-se a partidos e audiências.
O grave problema
está em que este género de contestação perdura até que a pintem por cima,
mantendo acesa a chama que o poder, conservador por natureza, faz questão de
apagar.
A contestação
subversiva não é “A” solução. É “um” meio!
By me
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