De
cigarro nos lábios, vou à janela. Tento adivinhar como estará a noite, antes de
me recolher em definitivo.
Está
calma. Não passam carros, está fresco mas não faz vento, a humidade não
ultrapassa o que o dia foi.
E
neste silêncio nocturno, que nada conta do que foi a confusão diurna para umas
centenas de milhar de portugueses, oiço um som incomum. Daqueles que incomodam,
mesmo que à distância.
Apuro
o olhar na penumbra e sondo as fachadas fronteiras. Tem de vir daí! Vinha.
De
uma janela semiaberta, uma mulher fumava. Via-lhe subir o fumo na luz que
brotava do interior e na ausência de brisa que fosse. Mas também lhe ouvia o
choro. Soluçante. Pungente. Daqueles que, talvez, pedem um ombro para ensopar.
Não
creio que a conheça. A porta do seu prédio não se abre para a minha rua e a
distância não dava para identificar feições, meio tapadas pelo cabelo solto
para a frente. Talvez que já nos tenhamos cruzado algures por aqui, por sob o céu
ou num balcão, por via de uma bica ou de pão. Nem desconfio.
A
figura recolheu e deixei de ver a sua silhueta e o fumo do seu cigarro. Tal como
deixei de ouvir os seus soluços. A luz apagou-se e a rua retomou a sua
tranquilidade de um bairro suburbano, com os seus dramas a coberto de vidraças
e persianas escuras.
E
eu quedei-me, também no escuro, até o cigarro mais não ser que um morrão no
filtro.
By me
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