A
história tem pouco mais de trinta anos.
Um
espectáculo inédito anunciava-se para Lisboa. Na praça do Comércio (ou Terreiro
do Paço), para ser mais concreto.
Largado
a partir de barcaças fundeadas no rio Tejo, um fogo de artifício de grandes
dimensões e duração. Algo que hoje não nos é estranho, mas que, na altura, era
original.
A
notícia correu o país, os media, televisão incluída deram notório destaque ao
evento, as câmaras, as torres de iluminação e as barcaças foram colocadas. E o
povo acorreu em massa.
Aliás,
foi um mar de gente que invadiu a praça da cidade. Os pobres coitados que ali
deixaram carros estacionados (à época podia ali estacionar-se) arrependeram-se
amargamente, já que a populaça subiu-os para melhor ver, deixando muita chapa
desfigurada. As próprias torres de iluminação (estava previsto um número de
folclore a anteceder e frente à bancada vip) foram invadidas, apesar das
medidas de protecção, chegando mesmo ao risco de queda por excesso de peso.
Foi
uma festa armada em circo. Ou vice versa.
Mas
também foi um fiasco!
Por
algum motivo (falou-se em quebra de cabos e curto-circuitos, mas nunca eu o
soube com rigor), fez com que o fogo se soltasse anarquicamente, aquele que foi
disparado. Que, a maioria, nunca chegou a sair dos “canhões”.
Um
fiasco e respectiva desilusão total por parte daquela multidão que ali acorreu,
bem como os que ficaram colados aos ecrãs. Aliás, e se bem recordo, o autor do
projecto acabou por fugir nesse mesmo dia, ou noite. Constava que, e para além
de não ter resultado, haveria um pilha de dívidas por liquidar.
Um
fiasco, em resumo!
E
vem esta história já velha a propósito do projecto “Lisboa em Si”, anunciado e
executado ontem à noite, em Lisboa.
A
ideia é interessante: usar os sons da cidade para compor um tema sonoro, uma “música”.
Barcos, sinos, comboios, barcos, eléctricos. Durante sete minutos estes sons
conjugados encheriam os ouvidos de quem por ali estivesse. Fui um deles.
O
anúncio do evento, contado pelo autor e replicado nos jornais e TVs, diziam que
seriam disputável em vários pontos da cidade, do Terreiro do Paço ao Chiado, da
Graça a São Pedro da Alcântara, de Santa Catarina a Santa Luzia.
Seguindo
isto, optei pelo largo do Chiado. Tal como várias centenas de pessoas, que o
encheram. E foi interessante ver aquele mar de gente ali. Tal como foi
interessante ouvir os sinos próximos. Mas mais nada. Mais nada se ouviu. Para
além, claro, dos carros que passavam e das conversas de quem estava.
Nem
eléctricos, nem camiões, nem barcos, nem comboios… Para além dos sinos, e só os
próximos, mais nada se ouviu.
Um
fiasco. Mais um fiasco.
Viver
fiascos destes uma vez a cada trinta anos não é grave. Tenho uma longa lista de
outros, de dimensões físicas menores, com intervalos bem mais pequenos.
Mas
gosto que os fiascos que vivo sejam da minha responsabilidade e de com eles
aprender.
Quando
sou conduzido a isso, com o beneplácito e a incitação por parte das autoridades
fico realmente chateado.
Da
próxima lá estarei, se daqui por trinta anos ainda por cá estiver. Mas uma
coisa eu garanto: tratarei de saber onde estarão as figuras gradas ou vip e será
junto a elas que lançarei ferro.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário