Tenho
para mim, e que me perdoem os que seriamente discordem da minha opinião, que
chamar de “ciência” à psicologia é um disparate.
Uma
ciência baseia-se em certezas, postulados, fórmulas testadas e demonstradas, ao
mesmo tempo que é uma busca de novas soluções ou respostas.
Mas
o relacionamento tem de tudo menos de ciência. É que, à medida que vamos
dividindo a Humanidade em grupos e subgrupos de comportamento padrão, acabamos,
invariavelmente, por constatar que cada indivíduo tem o seu próprio
comportamento, acções e reacções, motivações, que diferem de todos os outros. O
mais que se pode dizer é que há comportamentos ou reacções mais ou menos
comuns, que, genericamente, este ou aquele grupo ou subgrupo funciona mais ou
menos de um modo regular e previsível. Mas a possibilidade de erro nessa
afirmação existe e não é desprezível.
Assim,
ao lidar com alguém, esqueçam-se as regras ou etiquetas, as fórmulas
generalizadas. Mande-se um isco e aja-se em função da reacção, mande-se novo
isco para nova adaptação até que, finalmente, se se encontrará a forma correcta
de lidar com (ou antecipar) os comportamentos de alguém.
Ciência?
Muito pouco! Empirismo ou palpite? Muito, ajudado por uma grande capacidade de
adaptação.
Prova
prática disto é o meu projecto “Oldfashion”, agora hibernado no tocante ao
trabalho de campo.
Não
quis pedir a ninguém para ser fotografado. Isso subverteria o objecto de
estudo. Donde, para que a fotografia acontecesse, haveria que captar a atenção,
no caso pela surpresa. E, em função de como essa surpresa se manifestasse,
alimentá-la e à curiosidade até se transformar em vontade de ser fotografado.
Tenho um pouco mais de 1200 fotografias em três anos para atestar a validade do
que digo.
Outra
demonstração prática é a minha colecção “Um olhar”.
Não
é rigorosamente nada fácil convencer um estranho ou semi-estranho a deixar-se
fotografar assim. A proximidade física que este tipo de fotografia implica, a
quase agressão de uma grande objectiva apontada de perto à cara, o facto de
serem os olhos o assunto focado (os olhos, o tal espelho da alma, que tantos
segredos podem atraiçoar…), tudo isto quase que garante uma recusa por parte de
um desconhecido. Então, como o faço?
Bem,
começando pelo meu próprio aspecto que, não sendo convencional, faz parte do
tal elemento de surpresa; depois, garantir previamente que a pessoa a
fotografar está de bom-humor e sem pressas; assegurar também que o ambiente
circundante não é de molde a provocar embaraços ou vergonha. Recorrer a frases
ou expressões diferentes que, pela sua originalidade ou por serem tão
“frases-feitas” ou ditados populares, provoquem um sorriso. E, em este vindo,
metade da abordagem está garantida. Resta um pouco de alimentar o ego ao
modelo, assumir uma atitude humilde, acrescida de um niquinho de cumplicidade,
mais formal, mais marota ou mais filosófica, e a coisa acontece.
Sempre?
Nem pouco mais ou menos! Volta e meia lá aparece alguém que, logo de início,
recusa terminantemente, ou que me deixa usar de todo o meu “charme” e arsenal
de argumentos e, no fim, sorridentemente, me diz que não. Por vezes com uma
justificação, outras nem isso.
E
eu, não ficando com a fotografia, fico mais rico porque aprendo mais qualquer
coisa: senão o como fazer, pelo menos o como não fazer.
Eu
disse no início que a psicologia não é uma ciência? Lamento! Enganei-me. É uma
ciência e bem complexa! E o que ela tem de mais difícil é que nunca se acaba de
praticar e de aprender, todos os dias e em todas as circunstâncias.
E
um fotógrafo, além do domínio das técnicas e de algum jeito com as estéticas,
tem que saber de psicologia prática para conseguir trabalhar com os seus
modelos.
E
eu tenho muito que aprender.
By me
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