quarta-feira, 19 de junho de 2013

Stop



Teria eu algures entre os 16 e os 17 anos. Estudante liceal, em pleno período pós revolucionário.
Em saindo do liceu, umas esquinas depois, encontro uma mulher sentada sozinha no murete de uma boca de metro. Chorava. Muito.
Abeirei-me e perguntei-lhe se a poderia ajudar.
Por entre as lágrimas que lhe escorriam da cara e tombavam na sua roupa modesta, disse-me que não, que estava cheia de dores.
Uma mulher que chora de dores precisa de ajuda certamente e propus-lhe o chamar de uma ambulância.
Assustou-se e disse-me que não, que seria presa. Tinha acabado de fazer um aborto clandestino.
Que poderia eu fazer, adolescente com uma vivência bem diferente da que hoje se tem com esta idade? Contando os poucos trocos da minha semanada, sugeri-lhe levá-la a casa de táxi. Aceitou.
Deixei-a à porta do seu apartamento, no cimo de umas escadas esconsas e escuras, ali para os lados de Santa Apolónia. A seu pedido, desci em busca de uma mulher sua conhecida, ali num tasco ou mercearia, já não sei ao certo.
Nunca mais soube nada dela, nem teria que saber.
O epílogo desta história aconteceu há pouco mais de um ano, em que descobri o prédio, em recuperação antes do desabar final.

Adolescente ainda, fiz uma jura interior, solene e inquebrável: em tudo o que puder, nenhuma outra mulher passará por isto!

Ontem fiquei a saber que, no Brasil, se prepara para ser aprovado o “estatuto do nascituro”, em que a prática do aborto passará a ser proibida na íntegra, mesmo que em casos de violação ou má-formação congénita e morte anunciada pós parto.
Mais, ficam os violadores obrigados a manter um vínculo para com a vítima, através do pagamento de uma pensão para a criança até à maioridade. E, se o violador não for identificado, o estado assume essa responsabilidade.


Estarem os Brasileiros na rua não se prende apenas com vinte cêntimos ou jogos de bola.

By me 

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