terça-feira, 30 de abril de 2013

Alegoria do património




Boa amiga fez-me saber da existência deste livro. E se o conhecimento não tem fronteiras nem limites, também não tem caminhos definidos previamente. Pelo menos p’ra mim. Tratei de o encontrar e trazer para casa.
Ao fim de dez páginas, apenas, dou com esta preciosidade.
Pergunto-me o que escreveria ou citaria a autora, Françoise Choay, se em vez de ter publicado o livro em 1992 o tivesse feito hoje mesmo. Que o conhecimento impresso está em decadência em benefício do conhecimento on-line. Com tudo o que de bom e de mau isso tem.

“…
O perspicaz Charles Perrault encanta-se por ver desaparecer, devido à multiplicação dos livros, os constrangimentos que pesavam sobre a memória: “hoje”, não se aprende quase nada de cor, porque se tem naturalmente em casa os livros que se lê, a que se pode recorrer quando se tem necessidade, de que se cita mais seguramente as suas passagens copiando-as do que fazendo fé na memória, como se fazia antigamente.
…“

Num estudo que li, há uns tempos, feito na Grã Bretanha, um conjunto de estudantes universitários foi confrontado com conhecimento novo em livros que procuraria numa biblioteca. Outro conjunto de estudantes universitários foi confrontado com o mesmo conhecimento, mas pesquisado na web.
Constatou-se que o primeiro grupo retinha melhor o que havia lido que o segundo grupo, que retinha melhor os locais onde o tinha encontrado.
Tenho para mim que o grave do conhecimento adquirido na net, apesar de mais rápido e pese embora a questão da fiabilidade das fontes, está na sua falência.
Em havendo quem queira fechar a rede (censura, guerra, questões económicas ou culturais) já não se tem acesso ao conhecimento porque restrito a este meio. Já os livros… bem, não é fácil de destruir toda a existência, mesmo considerando o espaço ocupado.
O dia do livro foi celebrado um destes dias. Mas, embora seja um utilizador intensivo da web e do conhecimento que ela propicia, não creio que alguma vez prescinda do papel, do prazer de ler um livro, de o folhear, de procurar na estante a lombada certa…
Mania minha, desde há muito tempo: em comprando um livro, escrevo logo na primeira página o preço, a data e o local onde o comprei. Interessante de constatar, as livrarias por onde fomos criando os nossos hábitos.

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Ser enganado é mau!
Mas ser enganado, dar por isso e nada fazer é uma cena que não me assiste, caramba!
Assim me tenho comportado ao longo da vida.
Amanhã será um dia bom de fazer alguma coisa. Não será muito mais que fazer ouvir a minha voz, mas amanhã é o dia de fazer ouvir a nossa voz.


.

Um olhar - Não Sei




Nem sempre é fácil conseguir fazer este tipo de fotografia.
Há que ter algum tipo de contacto prévio antes de se conseguir pedi-lo. Principalmente quando a proximidade da câmara, óbvia pelo enquadramento, é deste calibre.
Confesso que qualquer conversa me serve para, a dada altura, fazer a abordagem certa. Que umas vezes resulta, outras nem por isso e que outras, bem mais estranho, fazem questão de ser apenas os olhos, nada mais. Em qualquer dos casos, mostro sempre o resultado, usando os dedos no ecrã para mostrar aquilo que, realmente, vou aproveitar.
Mas, tendo conseguido a fotografia, surge outra situação difícil: a identificação. Faço questão que a cada fotografia seja apenso um nome. Que a minha câmara é muito mal-educada e atribui números às pessoas. E, brincando com isto, acrescento que tomarei nota daquilo que me disserem, verdadeiro ou falso. Algumas pessoas dizem-mo de caras, outras sorriem, pensam num nome e dizem-mo, outras, muito simplesmente, dizem que mo não dizem. Nesta última situação, alvitro eu um, que sempre foi aceite.
Este caso foi um pouco diferente. Não mo quis dizer, mas também não quis dizer que não queria dizer. Embaraçada, titubeou até que me atirou com um “não sei”.
Certo! respondi. O nome que vai com esta fotografia será “Não sei”.
Não gosto de faltar às minhas promessas, pelo que esta fotografia não se chama nem Maria, nem Ana, nem mesmo Zulmira.
Chama-se Não Sei simplesmente.

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Pestes e pragas




Em acordando, ainda de madrugada, ligo o televisor. Hábitos velhos.
Talvez porque me não recordava da hora, tropeço num daqueles programas de publicidade, apenas publicidade e mais publicidade. A minha opinião sobre estas madrugadas publicitárias é que eles conseguem vender p’lo cansaço. Que, a dado passo, acabamos por aceitar comprar aquilo que nos querem impingir só para não os ouvir mais.
Desta feita foi diferente. E estive mesmo vai-não-vai para fazer o telefonema a encomendar o produto. Duas dúzias, talvez. Haveria apenas que saber uma coisinha extra antes de a formalizar.
Trata-se de um artigo que, garantem eles, expulsa as pestes e pragas de sua casa.
Liga-se na tomada e ele, o aparelhinho, envia por toda a rede eléctrica impulsos digitais, electromagnéticos, e funcionando tal como as placas do seu computador. Sem cheiros, sem aerossóis, sem reacções alérgicas, discreto, seguro para crianças e animais domésticos, trabalhando mesmo quando você está a dormir, com uma agradável luz de presença. E basta um para toda a casa, ao contrário de outros, que implicam um por divisão.
Segundo eles, este aparelhinho afasta toda a espécie de pragas: baratas, escaravelhos, pulgas, ratos, ratazanas, aranhas, moscas, mosquitos…
Foi este argumento sobre o controlo de pestes e afins que me fez ficar tentado.
Pensei eu que umas dúzias deles, digamos que um por prédio visto usar a rede eléctrica para espalhar o seu efeito, manteria o meu bairro limpo de outras pragas como ministros, secretários de estados, políticos, presidentes…
Acabei por desistir e não fazer o tal telefonema. É que a praga em causa é demasiado poderosa para a rede existente, havendo o risco de sobrecarga e incêndios.
O melhor mesmo é usar métodos clássicos, como o vetusto porrete ou o chumbo quente. Não há riscos acrescidos e sempre temos a satisfação de os ver cair.

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segunda-feira, 29 de abril de 2013

O tempo é meu!



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Photógraphos e fotógrafos




A história tens uns seis anos.
Se acontecesse hoje, não sei se teria um final tão tranquilo para alguns dos intervenientes.

Estava eu no Jardim da Estrela, na minha actividade habitual por lá: Photógrapho.
E estava mais ou menos rodeado de gente: curiosos, pessoas que esperavam vez, gente que fazia fila para receberem a beberagem que nesse dia se promovia por ali… Bastante gente em redor.
A dado passo constato que, num relvado próximo, acontecia fotografia. Um homem na casa dos 50’s, razoavelmente equipado para tal, ia fotografando uma moça/senhora, no início dos trinta, vestida de forma provocante e tirando partido disso e que, com um cachorrinho, ia posando de pé, sentada e deitada na relva. Achei piada, mas tinha mais com que me preocupar: as minhas próprias fotografias.
Entre duas delas, dou de novo uma olhada e reparo que a objectiva estava, discretamente por entre as folhagens, assente em mim e no meu artefacto. Ora subia, ora descia, ora abria, ora fechava, mas era para os meus lados que os clicks aconteciam.
Não me espantei ou incomodei. Afinal, tanto o meu artefacto como a minha actividade não só estávamos num local público como éramos algo de invulgar. E já vou ficando habituado a ser objecto de enquadramento nestes propósitos.
Passado um pouco, no meio da minha azáfama, dou comigo encostado à moça/senhora. Sorridente, com sotaque brasileiro, insinuante e colocando o cachorro entre nós, o roço era evidente.
A princípio não percebi. O cão lambeu-me o nariz – só o cão, entenda-se – e ela foi dizendo umas piadas meio sem nexo mas fartando-se de rir com elas. Até que, em virando o meu olhar, vejo o fotógrafo disparando insistentemente. Horizontal, vertical, mais aberto, mais fechado, o obturador electrónico da DSLR não parava de trabalhar.
Mantive uma certa bonomia para com a moça (que o merecia), o cachorrinho (que de nada entendia) e o fotógrafo (que olhava para mim dentro e fora do visor).
Ao fim de um pedaço, lá entenderam que já chegava e afastaram-se. Sem uma palavra, um sorriso, um olhar cúmplice ou mesmo um menear de cabeça. O trabalho estava feito e pronto.
Aqui saltou-me a tampa!
Pedindo desculpas para uma pequena pausa a quem me rodeava e esperava vez, dirigi-me ao portador da câmara fotográfica, segurei-lhe levemente no braço e afastei-o de quem com ele estava, que o que lhe tinha para dizer não era para muitos ouvidos. E ouviu!
Ouviu que, ainda que mestres no mesmo ofício, o respeito recíproco não se perdia; Que ainda que me não tivesse manifestado, um pedido prévio ou um agradecimento posterior teria sido simpático; Que por muito discreto que ele pudesse ser, a potente teleobjectiva dava nas vistas por entre as ramagens e que a encenação da moça nada tinha de espontâneo; Que eu estava a sentir-me usado e abusado; Que noutras circunstancias, com menos gente por ali e com menos trabalho também, trataria de lhe confiscar a câmara, à força se tal tivesse que ser, até à chegada das forças policiais que eu mesmo chamaria, para que as minhas imagens fossem destruídas na sua presença; E que não confiasse em demasia na alvura e comprimento das minhas barbas, que atrás delas estava quem o pudesse pôr em prática.
Engoliu em seco, atirou-me com um “obrigado” mais frio que o pólo Norte, pegou no braço da moça e afastou-se. O canito, esse, não teve que correr, que estava nos braços dela.
Por mim, voltei à diversão colectiva e consentida que o meu “Oldfashion” permite e propícia.
Não sou pessoa de ler publicações “cor-de-rosa” ou do “jet-set”. Mas, e se por acaso, vier a ver alguma imagem minha com aquela senhora e cão e sem o meu consentimento expresso… Bem, para alguma coisa servirão advogados e tribunais!
Que uma coisa é ser Photógrapho, outra é ser fotógrafo!

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Imagem by Rui Palha

domingo, 28 de abril de 2013

Estragão




Este é um dos condimentos que uso aqui em casa: estragão.
Costumo comprá-los assim, em frascos e já secos. Também os há frescos, em raminhos, mas dão bem mais trabalho de usar e conservar.
O problema destas ervas é que são difíceis de encontrar à venda. As lojas que costumo frequentar só os têm de quando em vez, muito de quando em vez. Por isso, quando os encontro, compro três ou quatro frascos, que sou guloso p’lo paladar que dão às carnes.
Hoje, no supermercado cá do bairro, passei de novo na secção das especiarias. Que nunca se sabe…
Não havia nos escaparates. Mas estava uma funcionária a repor as existências, a quem lhe perguntei se, por mero acaso, não teria disto ali nos caixotes. Eu esperaria.
“Não vendemos”, foi a resposta.
“Bem!” disse-lhe. “Não vendem agora, mas já cá tenho comprado.”
“Nunca vendemos.” Insistiu.
“Olhe que comprei aqui uns três ou quatro frascos há, talvez, um ano.”
“Trabalho aqui há mais que isso e nunca vendemos!” Rematou ela, peremptória.

Apeteceu-me largar ali mesmo o cesto de compras que tinha comigo, ir de fugida até casa e pegar o que ainda me resta: este. Regressar a toda a brida e, abordando-a, esfregar-lho no nariz, dizendo:
“Olhe! Veja lá se este código de barras consta da vossa base de dados ou sou eu que ando alucinado de todo!”
Não o fiz, claro. Mas vontade não me faltou.
Esta história, que tem umas quatro horas de vida neste momento, recorda-me uma outra, esta com uns anitos já:
Numa grande superfície e na secção de fotografia, um jovem empregado fazia questão de chamar de “lente” ao que sei chamar-se “objectiva”. E insistiu tanto comigo que acabou por terminar a conversa com uma frase bombástica:
“É lente, estúpido, que é assim que temos na nossa base de dados.” A esta distância, já não asseguro se o termo que usou foi mesmo “estúpido” se foi antes “burro”. Mas foi um dos dois.
Na altura não me deixei ficar. Afastei-me, chamei o gerente da loja, contei-lhe o episódio e afirmei-lhe a minha firme intenção de ali não comprar a câmara que tinha em vista se, em regressando uns dias depois, fosse aquele empregado a atender-me. Ou mesmo se o meu olhar pousasse na sua figura. Nunca mais vi aquele empregadeco!

Faz-me sair do sério quando resolvem teimar comigo sobre coisas que sei. Mas que sei mesmo, até à raiz dos ossos, aquele saber indiscutível, absoluto, que me permite apostar a vida por ele.
E faz-me mais sair do sério quando esse teimar se baseia em conhecimentos colados com cuspo, sem solidez, fruto da consulta de um qualquer ficheiro, da leitura apressada de um qualquer livro p’ra totós ou páginas de web cuja credibilidade é equivalente a uma qualquer história do Superhomem.
A quantidade de coisas que não sei ou que mal sei encheria várias bibliotecas enormes. Sou o primeiro a reconhecer as fronteiras e dimensões. Mas daquilo que sei, caramba!, argumentem e demonstrem que estou errado. Não teimem!

E, já agora: há perto de algum de vocês estragão à venda? Digam-me onde que vou lá.

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Temperaturas




E pronto! Continua-se a usar o velho jargão, ignorando por completo o absurdo da expressão.
Diz-se que “as temperaturas vão descer”.
Bolas! As temperaturas não descem nem sobem! Que a energia não está em cima ou em baixo.
Em boa verdade, as temperaturas terão um valor maior ou menor, que poderão ser visualizadas ou medidas num termómetro. E, se este for de mercúrio ou álcool e estiver inclinado com o depósito em baixo, o ponto de indicação de valor, na coluna, estará mais acima ou mais abaixo conforme a temperatura medida.
Caramba! Nem as temperaturas sobem ou descem, nem os termómetros sobem ou descem.

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Tédio total



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sábado, 27 de abril de 2013

Opções




Fica à vossa escolha: ler o artigo publicado no jornal “Público”, por um lado, ou ler os artigos publicados nos jornais “Correio da Manhã”, “I” ou “Diário de Notícias”.
Lidos, cada um individualmente, não se notará muito a diferença. A história relatada é, “grosso modo”, a mesma, como mais ou menos detalhes. No entanto…
No entanto o jornal “Público” titula o caso com “TVI suspende jornalista que se queixou de Judite de Sousa” e mostra a fotografia da esquerda e Judite de Sousa; O jornal “I” usa o título “Jornalista da TVI Ana Leal impedida de entrar na estação” e ilustra com a fotografia do meio com Ana Leal; O “Diário de Notícias” encabeça com “Ana Leal impedida de entrar na TVI” e usa a fotografia da direita com o retrato de Ana Leal. Já o “Correio da Manhã” usa o título “Ana Leal obrigada a abandonar a TVI” e não ilustra o artigo.
Claro que o assunto é, por si só, polémico.
Fala de figuras mediáticas (jornalistas mediáticos parece uma contradição mas não na actual sociedade de informação); Refere uma questão de disciplina laboral; A questão da ética jornalística está em causa; Aborda as eventuais “relações perigosas” entre a comunicação social e o poder.
Mas é particularmente interessante observar como esta história se transforma num excelente exemplo da utilização da “voz activa ou voz passiva” que conhecemos da língua portuguesa. Como com um título e uma fotografia se muda o centro de interesse de uma mesma situação. Como, antes de se ler todo o artigo, se induz o leitor a tomar partido. Como se manipula a opinião pública. Tudo isto, e pela coincidência dos diversos artigos no grosso da história, sem mentir ou, aparentemente, tomar partido.

Repetindo-me nesta minha opinião, deveria ser obrigatório, nos programas de ensinos dos jovens, o saber analisar as notícias que lhes chegam, interpretar os pontos de vista subjectivos e defenderem-se das manipulações fáceis da comunicação social.
Diz-se que as sociedades ocidentais estão organizadas em três poderes: legislativo, executivo e judicial. E que a comunicação social será o quarto poder. Diria eu que este é o mais perigoso de todos porque não eleito, porque não sujeito a decisões ou opiniões populares, porque sub-reptício, porque capaz de manipular todo uma nação sem que esta dê por isso.

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Sabedoria popular



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sexta-feira, 26 de abril de 2013

Virtude




A photographia não tem que possuir virtudes!
Bem p’lo contrário, a photographia tem que ser provocativa, agressiva, dinâmica, violenta mesmo. A photographia tem que provocar emoções em quem a vê e, principalmente, em quem a produz.
A uniformidade, a monotonia, a falta de interesse, a ausência de diferença, transformam a photographia em algo de tão apelativo quanto a fotocópia da escritura, por exemplo, da compra de um apartamento.
O povo diz que “No meio-termo é que está a virtude!”
Em photographia, o meio-termo, o centro, a simetria, a “virtude” são a antítese de tudo o que a photographia tem que ser. A menos, claro, que o objectivo seja o aborrecimento, a monotonia, o tédio absoluto.
Por exemplo, mostrar o tédio que já se trás de casa, no caminho para mais uma entediante jornada de ganha-pão, no interior de um sempre igual e ronceiro comboio suburbano.
Entenda-se, no entanto, que mesmo um impoluta folha de papel de fotocópias, retirada ao calhas de uma resma recém aberta, pode não ser monótona. Depende, claro está, do estado de alma de quem para ela olha.
Apesar disso, continuo convencido que, em photographia, não é no meio que está a virtude. 

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Um olhar - Lúcia



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Já chateia




Por vezes chateia a forma como certas coisas se repetem.
Ontem quis ir fotografar o nascer da lua. Uma vez mais. E quis fazê-lo onde e como já tenho tentado e não tenho conseguido os resultados que quero: junto ao Tejo, virado p’ra Leste, vendo-a subir acima da água.
Tudo se conjugava p’ra que corresse bem: encontrei as tabelas astronómicas que me deram tempos e orientação com rigor, a meteorologia previa condições adequadas, tinha eu horário de trabalho que me deixava livre para tal projecto…
Mas, e mais uma vez, as leis de Murphy deram um ar da sua graça: a ventania obrigou-me a andar com o chapéu pendurado, antes que voasse; a neblina no horizonte escondeu o momento que eu queria, só deixando ver a Lua quando ela estava mais de um palmo acima do rio. Uma vez mais nem o tamanho, nem a posição nem os reflexos eram os que queria.
Já começa a chatear!
Mas chateou-me bem mais uma conversa que tive.
Enquanto esperava p’lo momento certo, que não aconteceria, entretinha-me eu a fazer outras fotografias, usando da 400mm e do monopé.
Já o sol se não via e passam por mim três jovens, duas elas e um ele, que comentam sobre o que a minha objectiva era capaz de captar. Conversámos um nico, mostrei-lhes o que fazia e tentaram fazer equivalente com a que uma delas tinha na sua própria câmara, uma 18-55mm.
Disse-me a dona da câmara que estudava num curso técnico-profissonal de fotografia em… (não o refiro propositadamente).
Mas ao longo da conversa que ali tivemos de mais de meia hora, em que íamos tentando tirar partido da Lua, agora já visível mas não como a queria, a ignorância que ela ia demonstrando era confrangedora. Tanto no que respeita a controlo de luz, como no manuseio da sua própria câmara como em termos de composição.
Acabaram por desistir, até porque o fresco já se manifestava. Deixei-me ficar eu, que sou teimoso e haveria de trazer algo na câmara.
Mas o que me incomodou, mesmo, foi a quantidade de coisas mais que básicas que aquela mocinha ignorava, sendo que frequentava um curso de fotografia e já estamos em finais de Abril.
Até que me lembrei de uma pergunta que ela havia feito, quase logo no início da nossa conversa: “Porque é que usa uma Pentax? Elas não são más e antiquadas? Boas são só as Nikon e as Canon. Quem mo disse foi o meu professor.”
Coitada desta mocinha, e dos seus colegas, que ao fim de sete meses de um curso de fotografia, aprendeu isto mas não sabe manejar a câmara que possui.
E malditos os professores que incutem nos seus alunos a noção de que o que conta é a marca da ferramenta e não o uso que dela se faz.
Começa a ser cansativo o não conseguir fotografar a Lua como quero. E já estou farto de encontrar gente a frequentar escolas da treta.

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quinta-feira, 25 de abril de 2013

Cercados




São coisas destas que me fazem sair do sério!
Num passeio, na zona oriental de Lisboa, dou com isto.
Um pouco mais abaixo, junto a um casino, três polícias garantem a segurança do edifício.
Enquanto isso, reduzem-se ou extinguem-se as chamadas “actividades extracurriculares” no primeiro ciclo, presumindo-se que os pais, se querem continuar a ter os seus filhos pequenos protegidos e bem entregues enquanto os pais trabalham, terão que pagar.
Os arames farpados continuam a ser erguidos, as câmaras de vigilância idem, e a um ritmo bem maior.
As famílias, se querem ter filhos, que trabalhem e paguem para isso. E não importa, claro, que o país disso necessite desesperadamente.
Ao mesmo tempo, as forças de segurança protegem eficazmente os locais onde os roubos são legais: bancos e casinos.
No dia de hoje, pergunto-me se é altura de festejar o que foi ou de intervir antes que futuro vá com os porcos!

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Perguntas




Há já uns meses que ando a “namorar” aqueles olhos.
Pertencem a uma jovem que trabalha numa cafetaria de um centro comercial, perto de onde trabalho.
O verdadeiro motivo de ir até este local não se prende com os olhos mas antes p’la excelência do café que ali servem. E os bolinhos não lhe ficam atrás. Mas aqueles olhos…
Nem sempre os seus horários e os meus coincidem, p’lo que não tem coincidido o eu ter o equipamento certo comigo (estes merecem uma boa câmara e objectiva). Tal como nem sempre coincide o eu ter o equipamento e a dona destes olhos estar com ar de quem aceita o desafio. No fim de um dia de trabalho atrás de um balcão concorrido não será a melhor ocasião para aceitar tal desafio.
Mas hoje a coisa propiciou-se: equipamento certo, mesmo que minimalista, estar ela de serviço e parecer bem disposta.
O trabalho era, efectivamente, muito: dia feriado, solinho agradável, etc., faz aumentar exponencialmente a clientela. E o andar de um lado p’ro outro atrás do balcão.
A minha abordagem foi mais ou menos clássica, com o acréscimo de ter dito, antes de qualquer resposta, saber eu que o dia não seria o melhor.
A resposta foi também clássica, se bem que a não esperasse desta jovem, por qualquer motivo:
“Ah! É fotografo, é?”
Já conhecia a interrogação, mas hoje, talvez porque eu mesmo depois de um dia de trabalho, tinha o sentido de humor um tudo ou nada distorcido.
Tirando a câmara do ombro e a mochila das costas, abrindo-a em cima do estreito balcão e esparramando na cara um sorriso de vendedor de enciclopédias, atirei:
“Bem, andando com isto, não ando certamente a vender pneus.”
Ainda que meio caustica, parece que funcionou. Que as reticencias iniciais se desvaneceram e ficámos combinados p’ra um dia com menos movimento.
Mas, ora batatas! Ele há perguntas que, mais que desnecessárias, são idiotas!

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Morto (a)




Acredito que as regras podem ter excepções. E esta é uma delas.
Tanto quanto me recordo, esta terá sido a única flor que levei para casa para fotografar. Terá sido a única vez que, propositadamente, levei para casa um cadáver para o meu prazer fotográfico.
Somos omnívoros, o que significa que tanto comemos animais como vegetais. Trata-se de uma necessidade mais que básica, que tem que ser satisfeita.
Mas a satisfação da alma, que também é uma necessidade básica, tem limites na minha cartilha. E um deles é não provocar mortes para fotografar. O meu prazer intelectual não é, de forma alguma, maior que o respeito que tenho p’la vida. Animal ou vegetal.
Por isso, recuso-me a colher uma planta. Ou a comprar uma. A menos que venha envasada, vivinha, e que eu mesmo tudo faça para lhe manter e prolongar a vida, juntado essa sua necessidade ao meu prazer.
Trazer flores, por bonitas que sejam, de um jardim, do campo ou da florista, mantê-las à vista para meu deleite e ignorá-las depois da sua rápida morte… Não tenho o direito de assim brincar coma vida de outros, mesmo que de uma planta.
Esta foi uma excepção. Gosto de dizer, de mim p’ra mim, que ao tê-la fotografado e usado a sua imagem (como agora), estou de algum modo a prolongar-lhe a vida, mesmo que ficticiamente. Sofismas que mais não fazem que disfarçar o facto de ter morto um ser vivo para meu prazer!
Mas, e já que o fiz (mea culpa), p’lo menos que seja tão útil quanto o possível. E aqui fica, um símbolo da data que hoje se comemora, reconhecido p’los nacionais como tal, ainda que muitos não saibam, com rigor, o que se celebra. E ainda bem, pois que essa “ignorância” é a consequência de não ter vivido o que antecedeu a data em causa. E tudo o que então foi.

Hoje desejo que haja motivos para que, muito em breve, se crie uma nova data importante na história. Uma viragem bem mais material que a de ’74. Que os protesto que hoje se ouvem, sólidos e bem mais que justificados, se baseiam em questões bem mais materiais que o que justificou Abril. Não estamos em guerra, não temos polícias políticas, não tememos p’la nossa segurança enquanto seres pensantes e com opinião.
Mas um pedido faço: em fazendo a viragem que desejamos e merecemos, em invertendo o caminho que alguns candidatos a ditadores querem tomar, não façamos de um cadáver o símbolo disso.
Por muito belo e poético que possa ser, sempre será usar a morte de algo para celebrar a vida. E, na minha cartilha, o meu prazer intelectual não é mais importante que a vida de uma flor.


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Lembrando




Com quinze anos já tinha escrito, batido à maquina, policopiado e distribuído panfletos subversivos contra a guerra colonial.
Já tinha assaltado, de noite, o liceu onde estudava e destruído algum material de secretaria, como forma de protesto activo e real contra as prepotências do sistema educativo ali vigentes.
Já tinha participado em encontros clandestinos de associações de estudantes, em Lisboa.
Já tinha distribuído, a preços de custo, copias piratas de um livro de estudo obrigatório, vendido nas livrarias a preços inacessíveis à maioria dos estudantes.
Já tinha feito o jogo do gato e do rato com contínuos e polícias.
E no dia seguinte…

No dia seguinte foi a alegria de saber que mais nada daquilo faria sentido porque obsoleto.
Foi o entusiasmo de saber que aquilo que era conhecido apenas em sonhos e sussurros – a liberdade – passara a fazer parte da vida real.
Foi a euforia de aprender e saber que o futuro éramos nós e que sairia das nossas próprias mãos.
O tempo passou e de quinze passei a cinquenta e quatro. Os factos e as práticas foram o que foram, tornando-se no que é hoje.
Espero que possa, sabendo que a História não se repete mas tão só se equivale, voltar a viver tempos equivalentes. Eu e todos os demais. Com a alegria, entusiasmo e euforia equivalentes. Em breve, se possível.


Para os que reclamam por um novo “25 de Abril”, um lembrete:
Não queiram que o passado se repita. Não acontecerá! Construamos antes algo de equivalente, que as circunstâncias são outras.
Mas façamo-lo!
Não se limitem a desejar e esperar que alguém o faça.
Se virem a oportunidade, agarrem-na. Se a não virem, provoquem-na.

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quarta-feira, 24 de abril de 2013

Fica o recado:




As revoluções não são apenas actos de mudança de regime – positivo ou negativo.
São, e principalmente, mudanças nas atitudes, nos comportamentos, nas relações entre pessoas e entre pessoas e instituições.
Aqueles que se intitulam de “revolucionários”, que usam bandeiras, símbolos, agrupamentos partidários, mas que não respeitam o seu semelhante, que ignoram compromissos assumidos – com outros ou com todos os outros – e que baseiam o seu comportamento na “lei do funil”, não são revolucionários.
São os oportunistas que, em regra, desvirtuam e corrompem as práticas revolucionárias de terceiros. Sejam quais forem os gestos que façam, as cores que usem ou que tragam na lapela.
A história (distante, não muito distante e bem próxima) demonstra-o, infelizmente.


By me

Só para lembrar que falta exactamente um dia para ser amanhã.
E que se esperarmos sentados, ele será exactamente igual ao dia de hoje.

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Já foi vermelho



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Velhos hábitos



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Livros




Parece que foi o dia do livro. Uma daquelas convenções, criadas não sei por quem, com intuito de celebrar o assunto visado e, muito provavelmente, vender mais uns quantos. Não me é importante.
É que ando sempre com um livro comigo. O que estou a ler na altura ou, para ser mais correcto, o que estou a ler fora de casa, que em casa leio outro. Manias.
Mas, certo é, que já houve tempo em que andei sempre com dois livros. As modernidades e a crise impedem-me disso, que deixei de andar com o livro de cheques.
Agora, só mesmo p’ra leitura e deleite.

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terça-feira, 23 de abril de 2013

O Zippo




Pergunta, de algibeira ou nem tanto:
Qual a semelhança entre um 2CV, um velho carro eléctrico e um Zippo?
Razoavelmente fácil de responder, para quem os viveu ou vive com frequência: o som!
Cada um deles tem um som inconfundível, único, capaz de ser reconhecido aqui ou nos antípodas.
Para quem tiver dúvidas, peça a alguém para que acenda isqueiros de gasolina de várias marcas. Com os olhos fechados, tente identificar qual é o Zippo. A probabilidade de falhar, se for fumador e usar amiúde um Zippo, é mínima.
O mesmo se aplica ao som do rodar ou da campainha de um carro eléctrico (bonde no Brasil, tram nos USA). Para já nem falar no som do motor de um 2CV ou de um VW carocha.
Vão para a rua, fechem os olhos e digam-me se não acertam, em passando um.

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A porta




Um dia alguém me explicará porque raio chamam a isto uma porta mal fechada e não uma porta mal aberta.

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Exercício de estilo




Éramos três e todos ligados à fotografia, ao vídeo e TV e à escrita.
Das várias coisas que então partilhámos, e já lá vão vários lustros, recordo um exercício de criatividade, sugerido já não sei por quem.
Cada um de nós entregava a um dos outros uma fotografia feita por si e da sua escolha. Passado algum tempo, suponho que quinze dias, mas não garanto, cada um apresentava ao terceiro a fotografia acompanhada de um texto, entretanto escrito. Novo ciclo de tempo e a foto e o texto eram entregues de novo ao primeiro, agora com uma nova fotografia a acompanhar. E quem recebia teria de novo um tempo limite para fazer um novo texto. E por aí fora até que algum de nós dissesse sobre o que tinha na mão: “Está completo! Não lhe acrescento nem uma virgula ou halogeneto de prata”!
O exercício terminava aqui com três conjuntos de fotografias e textos evolutivos e de criação colectiva. 
Nem para o texto nem para a imagem havia restrições. Poderia ser uma palavra, uma frase, um poema ou várias páginas de escrita “caótica”. E poderia ser em cores ou preto e branco, positivo, negativo ou diapositivo, fosse qual fosse o tamanho apresentado.
A Terra rodou muitas vezes, e as nossas vidas também. Se eu sou um orgulhoso e satisfeito operador de imagem vídeo, outro é o proprietário de uma produtora de vídeo e o terceiro foi um notório realizador de TV lá para os antípodas. 
Mas certamente que este exercício de estilo, esta diversão de comunicação de ideias e saudavelmente exigente, tê-los-á marcado como a mim. 
Ainda hoje as imagens me provocam palavras, as palavras sugerem imagens e ambas as situações me levam a emoções. 
E continua a ser um exercício interessante, ainda que agora a uma só voz, manter diariamente a relação palavra/imagem e imagem/palavra. Conseguir a ilustração certa, por vezes com tempos reduzidíssimos, ou a verborreia adequada a algo que vi e registei, consegue manter-me acordado e alerta, mesmo nas ocasiões mais apertadas.
Se o resultado é bom ou mau? Não sou juiz em causa própria, mas são incontáveis as vezes em que penso que poderia ter feito ou abordado o tema de outra forma.

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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Patos


A história começou há mais de uma semana:
Uma ninhada de patos, quase recém-nascidos, foi passear com a mãe para o meu bairro. Para as ruas do meu bairro. Para o meio dos automóveis, na minha rua e na rua de cima.
Uma senhora recolheu-os e havia duas alternativas: ou bem que os levava para quinta onde trabalha como tratadora de animais, ou os devolvia ao charco que existe aqui nas traseiras, com a esperança que a mãe os encontrasse e deles cuidasse. Não soube, ao certo, o que aconteceu.
Mas no dia seguinte decidi lá ir dar uma olhada. E uma fotos de caminho.
Fui munido da minha 400mm e um monopé e tive a satisfação de ver uma família, mãe e filhotes, exactamente com o mesmo número dos que haviam sido recolhidos. Fiquei a acreditar que fossem os mesmos e que a história tinha tido um final feliz.
Hoje, mais de uma semana depois e porque o tempo estava convidativo, ainda que com vento, decidi ir dar outra olhada. E fotografias, de caminho.
Mas fui guloso! Desta feita fui armado e carregado com a minha Novoflex 600mm, bem como o monopé. Podeis vê-la aqui, há uns três anos: http://spotmeter98.blogspot.pt/2010/01/just-lens.html.
E se digo que fui guloso é porque este bicho é bera de usar, implicando uma prática com ela que não tenho, ainda. Saiba-se que pesa a ninharia de 2,5Kg. O foco é rápido mas muito sensível, o controle de exposição complicado e pouco rigoroso mas resulta em imagens como estas.
E fui guloso porque ela é bem mais potente que aquilo que me teria dado jeito, não conseguindo enquadrar a família toda. Sim porque ela ainda por lá está, o mesmo número, se bem que os infantes estejam já maiorzinhos.
No meio de muitos disparates e imagens muito abaixo do aceitável, sobram algumas. Estas.

Dados técnicos: Pentax K7, Novoflex 600mm f:8, 1/500, f:11 ou f:16, ISO 800, leitura TTL alternada com fotómetro manual incidente.





Para que conste




Há muita raiva à solta cá no meu bairro!

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Petições




Tropeço numa petição pública intitulada: “Impenhorabilidade Bem de Família”.
O seu objectivo base (o não desalojar quem perca condições de pagar a habitação ou, na sequência de dívidas, ficar sem bens essenciais) está cheio de bondade.
Já sobre esta petição tinha lido, mas não a sua totalidade. Li-a agora.
E não a irei assinar, caramba!
Que não entendo que computador, maquina de lavar loiça, aparelhos electrónicos, sejam “bens essenciais”.
Será importante a sua posse para quem os venda, repare e substitua. Mas não creio que deixar de ver TV, ouvir Rádio ou aceder aos Faces ou Twiters seja de tal forma grave que ponha em risco a vida de cada um.
Curiosamente, na lista dos bens impenhoráveis, não constam pratos, talheres ou tachos. Tal como não constam roupas, de cama, de banho ou de vestir. Tal como não constam livros. Será que estes bens não são vitais?
Não!
Uma petição que considere que TV, Rádio ou Computador seja um “bem impenhorável” não tem a minha assinatura. Apesar de eu mesmo usar intensamente tudo isso.

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Dia mundial




Dizem que hoje é o dia mundial da Terra.
Coitada, se estiver dependente das mãos dos Homens.

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Em 16 por 9




Valham-me todos os deuses! Nem sei porque me espanto!
A notícia de abertura foi o jogo de bola de ontem, com imagens do dito e das conferências de imprensa posteriores.
A remodelação governamental ficou para segundo plano, obviamente.
O facto de ter sido a segunda em duas semanas não deve ser nada importante.  

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domingo, 21 de abril de 2013


Um ministro português entra num armeiro, pretendendo comprar uma arma de defesa.
“Quero uma pistola. Tem?”
“Não”, responde o armeiro enquanto arrumava a gaveta das pistolas.
“Ah! Então e um revolver? Tem para mim?”
“Não tenho.”, disse o dono da loja apoiando-se no expositor dos revolveres.
“Bem, então deve ter uma espingarda para mim.”
“Também não.” Respondeu, afastando-se do armário das espingardas.
“Ao menos uma faca. Deve ter uma faca para mim, bolas.”
“Não tenho”, afirmou o fulano, olhando para o respectivo escaparate.
“Mas oiça lá: Tem alguma coisa contra mim, é?”
“Tenho: pistolas, revolveres, espingardas, facas…”

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Verso e reverso




Verso

Um destes dias apresentar-me-ei no Parlamento, pedirei respeitosamente a palavra e, quando me a derem, lerei a minha proposta de revisão do código civil, penal, comercial, fiscal, …
Tratar-se-á de uma obra volumosa, de muitas páginas, tendo escrito na última a palavra “continua” e coisa nenhuma em todas as outras.
O bicho-homem, na sua busca de uma sociedade perfeita, justa e livre, acaba por fazer exactamente o oposto: usa uma teia intrincada de leis, regras códigos, normas, imposições e proibições que, ao invés de o libertarem, apenas o mantém limitado.
Na expressão plástica acontece o mesmo. Os autores vêem-se confrontados com os limites dos suportes. Definidos em formas padronizadas pela indústria e com regras concebidas em tempos de antanho e consideradas inabaláveis.
No caso da fotografia ainda se vai mais longe, levando o acto de distribuir as formas dentro do suporte com o nome de “enquadramento”. Colocar dentro de um quadro ou quadrado, com limites bem visíveis.
As indústrias de câmaras, papeis, molduras, imprensas, jornais, TVs, cinema, web, revistas… seguem pela mesma linha.
Um quarto ou meia placa, dois por três, três por quatro, widescreen, cinemascope, meia página, mancha inteira, duas colunas…
Estou em crer que o artista plástico mais livre da história do Homem, terá sido o nosso ante-ante-antepassado. Com as suas pinturas e gravuras rupestres e a ausência de limites ou imposições.
Talvez que o seu descendente actual seja o pintor de graffitis, mas mesmo assim é discutível.
Mas certamente não serão os fotógrafos que, nas artes plásticas, se comportam com mais liberdade ou a assumem, atados que estão a regras e limites.


Reverso

Vir aqui, ou onde quer que seja, gritar “Abaixo a regras e as leis! Viva a liberdade total!” é bonito.
Dá um aspecto de rebeldia, de excentricidade, de enfant terrible, agravado pelo facto de quem o diz não ser exactamente um adolescente a querer marcar um lugar ao sol.
Se a estas afirmações lhe juntarem um toque de acracia e se falarmos de artes, a classificação passa para “intelectual, eventualmente culto, que sabe do que está a falar”.
Mas como a Terra gira sempre, e mesmo nos pólos existe o dia e a noite, temos que ver a questão do outro lado também: as convenções, as razões da sua existência, a sua eficácia e necessidade. Mesmo que falemos de arte e de formas de expressão.
A espécie humana é gregária. Se exceptuarmos alguns excêntricos que decidem levar uma vida de ermitas, todos os indivíduos se juntam, tentando usar as suas próprias fraquezas individuais em proveito próprio e dos outros. Unidos temos mais força.
Mas esta vida em grupo só é possível se nos entendermos, se comunicarmos os nossos desejos ou necessidades e se os outros elementos do grupo (um continente, um país, uma religião, uma família) entenderem o que queremos dizer. 
Até aqui nada de novo!
As artes, maiores ou menores - e incluamos nelas a fotografia - são uma forma de expressão individual mas também, quiçá principalmente, uma forma de comunicação. 
Haverá alguns que dirão que fotografam (pintam, escrevem, compõem, etc.) para si mesmos, pouco lhes importando a reacção dos seus iguais. 
Isto é uma mentira do tamanho de um comboio!
Por muito egocêntrico que se seja, por muito auto-suficiente que se se declare, por muito que se aparente uma indiferença total pela opinião dos demais, sempre se sente satisfação quando o nosso trabalho é reconhecido e agrada. Fotografias incluídas.
Para que este agrado aconteça, há que conhecer o que e como os outros gostam e, de algum modo, ir ao seu encontro. A mais das vezes até não é difícil, já que somos fruto de culturas semelhantes ou iguais e a globalização vai-as aproximando a cada dia que passa, estreitando os conceitos de bom e de mau – no relacionamento entre indivíduos ou grupos e nas artes e comunicação. 
Os que hoje vivem, nasceram e cresceram sob a égide dos audiovisuais (fotografia, cinema, tv, web) que, de tanto divulgados, formataram os gostos e as preferências. E os códigos de comunicação, já agora.
Assim, é mais ou menos fácil de fazer um trabalho fotográfico que agrade. Basta usarmos como referência os gostos colectivos, escolhermos deles uma linha ou abordagem que mais nos agrade, introduzir um pequeno elemento de diferença que crie alguma surpresa et voilá: aí estamos nós a comunicar e a agradar!
Aqueles raros génios que rompem com os códigos e normas de comunicação e expressão artística estabelecidos são, em regra, repudiados. Pelo menos numa primeira fase. Porque o academismo não aceita a fuga aos cânones tradicionais, porque o comum do consumidor ou receptor da mensagem não o entende e aos seus códigos e não quer ter trabalho para o decifrar…
Com o passar do tempo, este novos códigos acabam por ser entendidos, vingam e, alguns, são elevados à categoria de mestria.
Mas a maioria dos indivíduos não têm a capacidade (ou não se querem dar ao trabalho) de inovar tão radicalmente. Contentam-se em usar os códigos de comunicação instituídos (ou não são capazes de deles se afastarem) e procuram que os seus iguais os descodifiquem de imediato, na busca do reconhecimento e da satisfação.
Esta atitude conservadora, que não é nem boa nem má, é tanto mais vital quanto quem está a comunicar é um profissional ou especialista de comunicação. O seu trabalho é fazer passar mensagens (escritas, pintadas, fotografadas) e quanto maiores forem as dificuldades na percepção do seu conteúdo, mais difícil se torna ele encontrar trabalho ou clientes.
Estes profissionais debatem-se diariamente com o mesmo problema: usando as regras para a facilidade e eficácia da comunicação (códigos conhecidos, estéticas reconhecidas, uma pitada de surpresa), ficam muitas vezes limitados no até onde podem ir na inovação. Em regra, não muito longe.
E isto passa-se com os fotógrafos também, que a fotografia é uma forma de comunicação. Quer se trate de fotógrafos amadores ou profissionais. Se pretendem que o seu trabalho, a sua expressão - individual ou a pedido - seja entendida pelos seus iguais, pelo público anónimo das revistas ou bem identificado na família, amigos ou conhecidos, tem que usar os códigos, as regras, os métodos reconhecidos por eles. E, se puder ou souber, colocar uma pitada de surpresa pelo caminho para fazer a diferença.
Terá se que se ater às paletes de cor dos suportes, aos formatos industrializados, às perspectivas convencionadas e inteligíveis, aos sentidos de leitura e aos suportes finais de exibição. 
Não respeitar os códigos de comunicação, mesmo na fotografia, é correr o risco de ser recebido com um sorriso de condescendência ou mesmo a indiferença explícita. 
E quem é que gosta de assim ser tratado?

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