sábado, 1 de dezembro de 2012

É do frio




É do frio. Vou dar de barato e presumir que é do frio.
Que é por causa das temperaturas que se fazem sentir, ajudadas pelo vento que aumenta a sensação de frio.
Que é disso e do facto de trazer as mãos ocupadas com sacos de compras. E sabemos que os sacos com compras, quando pesados, cortam a circulação sanguínea, aumentando a sensação de frio nos dedos.
Vou supor que é disto tudo, somado ao facto de ter andado às voltas com a carteira, ao frio e vento, com os dedos gelados à procura das malfadadas chaves da porta do prédio. É sabido que essas coisas ficam sempre perdidas no fundo das bolsas femininas e que são difíceis de encontrar, principalmente quando se tem frio, quando se tem os dedos gelados e se tem pressa de entrar num lugar onde o vento não se faça sentir.
Vou fazer de conta que teve a ver com todos estes factores, e o ter ficado com a língua congelada, o não me ter saudado de volta quando cheguei à porta que não conseguia abrir nem o a ter aberto com a minha chave. Nem me ter dado as “boas tardes” como resposta às que lhas dei, quando saí do elevador, no meu próprio piso e bem abaixo do dela.
E, partindo do princípio que foi o frio que esteve na origem desta falta de cordialidade e boa vizinhança, vou desculpar esta senhora, bem mais nova que eu e que mora no meu prédio.
Mas só desta vez!
Que da próxima, em percebendo eu que o frio lhe tolda os músculos do cérebro e da boca, atiro-lhe com dois ou três cordiais palavrões, o suficiente para que core até à raiz do cabelo.
Talvez que assim, com a circulação restabelecida e o calor a subir-lhe às faces, a sua língua se descongele quanto baste e me retribua a saudação ou, ao menos, que agradeça o ter-lhe aberto a porta.

By me 

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