São
coisas como estas, e de outros matizes também, que me fazem considerar que
alguns jornalistas e respectivos editores e directores se deveriam dedicar a
vender pasteis de nata e deixar o jornalismo para gente séria!
O
título diz: “Pai de juíza condenado a 20 anos de prisão por homicídio qualificado”.
É
que não entendo a relevância de a filha de um homicida ser juíza! Será que é
filha única? Que farão os eventuais irmãos desta mulher que teve o azar de o
pai cometer um assassínio?
E
como seria o título da notícia se a filha fosse cantoneira municipal, bibliotecária
ou professora de inglês?
A
importância da notícia, assim titulada, passa do homicida para a filha, quando
o que é realmente relevante é o criminoso ter sido condenado.
Levando
as coisas em tom de brincadeira (e isto nada tem de risível) um destes dias
quando encontrar uma senhora que conheço e que é juíza poderei perguntar-lhe,
com toda a legitimidade depois deste título, se foi o pai dela que cometeu o
crime.
O
jornalismo, tal como a justiça, tem o dever de proteger as vítimas,
escamoteando-as à voracidade mórbida da populaça.
Esta
mulher, para além da desgraça que lhe caiu na família (a vítima era seu
ex-companheiro e disputava o poder parental de um filho comum) é assim exposta
e arrastada nas ruas. Faltaria apenas, para completar o atentado à sua
privacidade, divulgarem a respectiva fotografia e nome.
Os
jornalistas que assim escrevem – e os responsáveis que isto sancionam – deveriam
ser eles mesmos escrutinados até ao limite, transformando em notícias de praça
pública os pecados e pecadilhos por si ou pelos seus cometidos.
Não
como revanche, como há uns tempos veio a lume a propósito de um político e de
uma jornalista, mas para que soubessem na carne o que é o uso abusivo do
direito a informar.
E
se a justiça se rege p’las leis e p’los factos que lhes são presentes, já a
conduta jornalística deixa muito a desejar, como se tem vindo a constatar ao
longo dos tempos, com a acusação, julgamento e execuções públicas, com factos e
argumentos exacerbados ou escamoteados de acordo com tiragens ou audiências.
E
ainda estou para ouvir ou ler uma retratação voluntária sobre divulgação de notícias
que não correspondem à verdade e cujas consequências afectaram drasticamente os
visados.
By me
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