É
uma daquelas sensações que qualquer fumador conhece de perto: o seu último
cigarro.
Se
for um fumador de longa data e dependente, terá uma de duas reacções: ou
encolhe os ombros e diz: “Vou ali buscar mais”, ou diz: “Eh pah! Deixei-me
apanhar! Malta, esperem aqui que vou ali buscar mais!”
Claro
que se for mesmo um veterano olha para o último e diz: “Este é o último aqui.
Tenho ali mais.”
E
há também aquele código de honra entre fumadores, quando um pede um cigarro a outro
e este lhe apresenta o maço ou a cigarreira contendo apenas um. Dirá o “crava”:
“Eh pah! Já só tens um. Deixa estar, obrigado.” E quem oferece, se for um veterano
e quiser mesmo oferecer, dirá: “Tira, que eu tenho mais.”
É
assim, o último, tal como o primeiro, é sempre marcante. Cigarros ou outras
coisas.
Por
exemplo, não me recordo do meu primeiro dia de vida. Sei que foi marcante, sei
que devo ter levado uma palmada e ter chorado (para me ir habituando), mas não
me recordo dele.
Foi
o meu primeiro dia de vida e não me recordo!
Agora
este, hoje, dizem que será o último dia, que amanhã acaba tudo.
Tal
como os cigarros, que sou veterano na arte de fumar, vou tratar que seja
marcante. E dele aproveitar até à última fumaça.
Só
que, tal como veterano fumador, também já sou um veterano de viver. E tenho em
carteira uma boa reserva de dias ainda. E sei-o!
Vou
tratar este dia como faço todos os outros: considerar que é o último e tirar
dele o máximo proveito. Sabendo que amanhã farei o mesmo e melhor ainda.
E
se acontecer neste último dia antes de todos os outros, alguém mo pedir,
mostrar-lhe-ei a cigarreira, perdão, o calendário e direi: “Aproveita. Tenho
mais.”
By me
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