Estava chateado,
aborrecido ou neura, como lhe quiserem chamar. Certo é que necessitava de algo
que me colocasse o ânimo onde o quero, para cima. E decidi vir onde sei que
isso costuma acontecer: bairro de Alvalade.
Os motivos são vários:
conheço-o bem, desde sempre para falar verdade, tem variedade de gente e arquitectura,
a orientação das suas ruas permite uns efeitos bonitos em termos de luz, tenho
aqui feito umas fotografias menos más. Tudo a ajudar.
Mas hoje não!
A luz está bera.
Se quando me meti a caminho o sol ainda espreitava por entre umas nuvens, com
uma cor bonita, em aqui chegando escondeu-se, restando um cinzento feio e
uniforme, capaz de desencorajar o fotógrafo mais afoito.
As ruas estão
pouco animadas, apesar de não estar nem frio nem vento demasiado.
As luzes de natal,
ainda apagadas, restringem-se a três arcos, um em cada extremo e outro a meio,
dando um ar de pobreza franciscana disfarçada.
As lojas, e fui
olhando à medida que a descia, continham, em média, 0,5 clientes, se tanto. Vazias
de meter dó, só se vendo os caixeiros mudando os artigos de posição ou na
conversa entre si.
Mas, pior que
isso, desde que aqui passeei da última vez, mais quatro lojas fecharam. Com os
vidros assim tapados ou despudoradamente nus, mostrando as paredes esventradas
do retirar das prateleiras.
Recordo as
reportagens televisivas ou impressas. Recordo os discursos dos políticos,
economistas e comentadores. Recordo as estatísticas que nos vão apresentando.
E constato, bem na
prática, que tudo isso está pintado de cores demasiado alegres, quando
confrontadas com a realidade.
E fico com uma
raiva tremenda, com vontade de fazer como se fazem aos cachorrinhos quando
começam a ser habituados a não fazer as necessidades em qualquer ponto da casa:
Pegar no focinho
desse políticos, economistas e comentadores, responsáveis por tudo isto, e vir
esfrega-lo nestas montras fechadas, nos expositores ao pó e nos passeios
cinzentos e vazios.
E, de seguida,
cortar-lhes as iguarias da consoada e o brilho das prendas da época. Bem como o
brilho do olhar das suas próprias crianças sem prendas ou guloseimas.
Espero, a bem da
tranquilidade pública, não me cruzar com um deles no triste regresso a casa!
By me
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