terça-feira, 2 de agosto de 2011

Justiça mediática



Se é culpado, que cumpra pena nos quintos dos Infernos! Se é inocente, já está nos infernos e dele dificilmente sairá!
Esta fotografia que aqui se vê foi por mim adulterada a partir da que foi publicada no jornal “Diário de Notícias”, na sua edição on-line de hoje.
Este jornal, além do retrato, dá-lhe um nome e uma empresa bem conhecida onde trabalha. E acrescenta um pequeníssimo depoimento de “uma fonte” dessa mesma empresa, que afirma estarem todos em estado de choque.
Até aqui tudo bem, excepto que o primeiro parágrafo da breve notícia, de capa diga-se de passagem, começa assim:
“O alegado predador sexual que a PJ do Porto deteve na quinta-feira passada pelos crimes de abuso sexual de uma menor de 13 anos e pornografia de menores é, segundo confirmou o DN, … “

Ora batatas, para não dizer pior!
Uma vez mais os nossos media, desta feita pela mão do Diário de Notícias, assumem o papel de acusador, juiz e carrasco! Acusam alguém de um crime hediondo, mostram-lhe a cara, dizem-lhe o nome, informam sobre onde trabalha, bem antes de a justiça fazer o seu trabalho.
E se, por um qualquer motivo, se constatar que houve um erro pelo caminho por parte da Polícia Judiciária, que esta pessoa não cometeu os crimes de que aqui o estão a acusar, nada haverá no mundo que venha limpar a opinião que a população fica a fazer desta pessoa.
A detenção por parte de uma autoridade policial não presume a culpa. Tal como não a presume o facto de ser julgado. Para este crime, por desvio de dinheiros ou por roubo de um pão.
Só um julgamento, em que a acusação é confrontada com os argumentos da defesa, pode ditar se é ou não culpado e qual a pena a cumprir. A pena legal e a consequente reacção do público sobre o assunto. Até lá, a presunção de inocência até prova em contrário é a base da nossa lei e da nossa justiça.
Até lá não pode a comunicação social, ainda que usando de subterfúgios da escrita como o termo “alegado”, escarrapachar assim a identidade de alguém a quem nem sequer foi dada a oportunidade de se defender do que é acusado.

Como eu disse no início, se for culpado, que cumpra pena nos quintos dos infernos. Se for inocente, já lá está, por mão de um jornal em que escrúpulos e ética parecem ter saído da sua prática.


Texto: by me
Imagem: editada a partir de “Diário de Notícias”

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