quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Peças raras
Podia eu espraiar-me aqui sobre o Aqueduto das Águas Livres, a sua idade e magnificência.
Poderia ainda explicar porque é que um dos seus arcos é francamente mais largo que todos os restantes. Questões de engenharia, já consideradas no século XVIII.
Podia ainda falar da crise e de como, apesar dela, a recuperação do património nacional continua a ser feita, para benefício dos nossos olhos e dos dos vindouros.
Podia incluir uma nota e imagens sobre o arriscado que é estar pendurado dos arcos deste aqueduto, ali na zona de Alcantâra, considerando ainda o vento que se tem feito sentir.
Poderia ainda referir os incómodos ao trânsito que o corte da avenida que por baixo dele passa provocou.
Podia mostrar o como o asfalto, dessa avenida e nesse local, estava pejado dos detritos resultantes dessa limpeza de pedra.
Prefiro, antes, mostrar esta peça. Informe, de difícil identificação, relativamente frágil, que me levou umas boas horas para decidir como a fotografar.
Trata-se de um objecto raro, que provocou alguns sorrisos, bem como algumas atitudes de indiferença, a quantos o mostrei. Desde ontem que está guardado numa caixa de cigarros, à espera de um receptáculo condigno e sólido.
O que é?
Um pedaço de uma das estalactites que estão a ser retiradas dos arcos do Aqueduto das Águas Livres, em Lisboa. Terá sido, creio, um dos raros que sobreviveu, mais ou menos inteiro, à queda de mais de 60 metros. Suponho que por ter caído numa zona arrelvada.
Não sei que idade terá este pedaço de calcário, revestido pela patine do tempo. Posso imaginar, pela espessura, que será contemporâneo da construção. Até porque não creio que tenham existido obras deste cariz nesta obra.
Será um objecto importante? Não creio. A menos que se pense que não existirão muitas pessoas que possuam um pedaço de estalactite que não tenha sido arrancada de uma gruta.
Um pedaço de história, ou de como a Natureza molda, ou se molda, àquilo que o Homem faz e desfaz.
Texto e imagem: by me
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