quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Porque me doi!



Tal como acontece com tantas outras coisas na vida, este projecto “Raisparta a competitividade” começou com quase uma brincadeira: uma loja fechada, uma mensagem menos comum no vidro, e a questão pareceu-me digna de mostrar.
Mais tarde achei que aquela situação, porque lamentavelmente não solitária, merecia ser exibida com a insistência e crueza que o tema merecia: sem grandes enfeites ou textos. As imagens e identificações falariam por si. Mantendo apenas alguma coerência num ou noutro aspecto técnico e estético.
É um tema difícil de abordar! Que não é apenas a questão do comércio que fecha, do desemprego que aumenta, da desenfreada concorrência ou competitividade que os governantes deste mundo ocidental deshumanizado tanto advogam e propalam. É bem mais que isso!
São os sonhos daqueles que constroem o comércio, que decoram as lojas, que escolhem os produtos em venda considerando as preferências dos seus clientes, são as relações personalizadas que se criam entre quem vende e quem compra, são os espaços que, durante um terço do dia, são a casa de quem lá negoceia… É, sobretudo, os sonhos e o gosto de quem monta o negócio. É tudo isto que é destruído, fruto de uma ganância implacável, disfarçada com discursos complacentes e de beneficência por parte dos tubarões das grandes distribuidoras, superfícies e centros comerciais.
E se em todos os negócios me dói vê-lo, porque o sei na generalidade, numa livraria dói-me ainda mais. Porque sei que um livreiro tem amor aos livros que vende, mais tema, menos autor, porque eu mesmo tenho amor aos livros e quem os me faz chegar às mãos. Ver uma livraria chegar a este ponto é como que tirarem-me um pouco da minha própria carne.
No caso desta em particular – e não a irei identificar – ainda me dói mais porque sei, que me foi contado na primeira pessoa, que foi fruto de amor aos livros e ao desejo que fossem lidos. E, apesar de isto que aqui se vê ser já um plano “B”, que o “A” se tornou incomportável, acabou mesmo por soçobrar. Dói fundo!

Pode um photógrapho registar apenas as coisas bonitas? Seria fácil: pôr-do-sol, abelhinhas, flores e carinhas larocas é o que não falta. Basta um pouco de paciência, alguma, não muita, técnica, e é sucesso garantido. Mas isso é apenas um dos três lados da moeda a que chamamos vida.
O outro é agreste, feio, vil por vezes. No meio estamos nós, ora tombando para um lado, ora para o outro.
E se a fotografia não servir para nos mostrar os dois lados opostos, ajudando a que nos equilibremos, então não serve mesmo para coisa alguma!

Esta é uma Ex-Livraria, feita com muito amor!


Texto e imagem: by me

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