segunda-feira, 23 de maio de 2011

Tapa/destapa



No comboio, a caminho do trabalho.
Um pouco mais à frente, virado para mim, um casalinho que ia para a praia. E sei que o ia porque ele segurava uma prancha de bodyboard, que o tapava quase por completo, e porque ela tinha no colo um saco de praia. E tinha ela uma saia de cores garridas e uma T-shirt preta, folgada. E, por baixo da T-Shirt, um fato de banho, igualmente garrido.
E como sei tudo isto sobre a indumentária da mocinha, aí com uns vinte e picos de idade? Porque a “marota” da T-Shirt, talvez devido ao trepidar do comboio, talvez devido à fricção do saco, volta e meia descaía um pouco, deixando ver um pouco do seu colo e o topo do fato de banho, cujas alças se cruzavam atrás do pescoço.
A dona do saco, da T-Shirt e do fato de banho é que não gostava dos movimentos da roupa e vá de fazer subir o decote para uma posição mais recatada. Mas nada a fazer que, passados segundos, tudo voltava ao mesmo, colo e cores garridas à vista.
Comecei a ficar chateado. O que ela trazia por sob o negrume da T-Shirt era exactamente aquilo que iria exibir, talvez uma hora depois, na praia, ao sol e na água, perante os olhares, mais discretos ou mais assanhados, de todos os frequentadores, eles e elas. E iria exibir muito mais, tanto do garrido topo do fato de banho como da pele que ele não cobrisse, que aquilo que a “marota” T-Shirt ali teimava em mostrar. Então porque haveria ela de se incomodar em esconder ali, no comboio, aquilo que iria mostrar passado pouco tempo?
Manias, digo eu, atitudes pseudo pudicas em que o que é natural é para esconder, exibido apenas em locais próprios e legalmente autorizados.
Um pouco como acontece com esta moda, que já vem do ano anterior, de exibir o peito do pé, os dedos do pé, o calcanhar, mas esconder, bem escondido, o tornozelo e respectivas curvas. Suponho que, neste caso, são resquícios das modas de finais do séc. XIX, em que era o cumulo do erotismo ver o tornozelo de uma dama, ainda que o decote fosse bem mais generoso que aquilo que hoje é permitido em escolas, públicas ou privadas.
Manias impostas por uns quantos designers de moda, que ganham a vida a fazer diferente dos outros, seja ou não prático, bonito ou mesmo útil.

Texto e imagem: by me

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