terça-feira, 24 de maio de 2011

Quase que ao acaso



Quase ao acaso escolho um livro. É tarde, apetece-me ler e vou à procura de algum autor que me conforte a alma. Ou que, pelo contrário, me tire do marasmo quotidiano do casa-trabalho-casa, em que pensar e criar é algo que acontece quase que como por acaso, nos intervalos das abjectas obrigações do sobreviver.
E fico na mão com um, já de lombada bem vincada, cheio de papéis com anotações de parágrafos ou páginas inteiras de referências: “A prática da arte”, de Antoni Tàpies.
Deixo que pelos meus dedos passem as folhas, sem que haja uma intenção específica de parar num ponto específico que não seja… Agora!
E dou com este parágrafo, na introdução da obra.
Mas um texto sem ilustração é-me difícil de publicar. E, sendo que já é tarde na noite, nem me apetece ir procurar no arquivo nem montar o que quer que seja a propósito. Assim, deixo o meu olhar vaguear pelo que me cerca aqui, neste meu canto, e prende-se ele no painel onde vou afixando papeis e fotografias, uma espécie de arquivo vertical, sujeito ao pó e à acção da luz. Pegar na câmara e fotografar, sem outro cuidado que o balanço de brancos foi acto de dois tempos.
A fotografia, já a haveis visto. O texto, é o que se segue, copiado mas quase que citado de cor:


“E nem falemos de todas as estéticas dos mercenários para acelerarem o consumo de certos produtos – hoje tão nervosos “à procura da respeitabilidade e de um estatuto finalmente artístico”, como diz Christiane Duparc; dos que hoje julgam que tem tanta importância um Gernica como um cartaz a anunciar umas calças ou uma marca de automóvel; dos estetas do “conforto”, material e espiritual, do ópio do falso “moderno” decorativo, da arte do xarope e do não dizer seja o que for que comprometa, que é o que mais adoram os vigilantes oficiais da cretinização sistemática da sociedade.”

By me

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