segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Um olhar - Boneca


A minha câmara é particularmente mal-educada!
Às pessoas que fotografo – o olhar, um retrato, corpo inteiro – não dá nomes: atribui-lhes números, quem sabe se alguma relação espacio-temporal com o cartão do cidadão.
Mas, mania minha, ninguém é um número, por muito que a minha câmara ou os governos insistam.
Por vezes o que se torna bem difícil de fazer não é a fotografia. É que, caramba, todos nós temos ego e alimentá-lo um niquinho é meio caminho andado, a par com um sorriso, para se conseguir “sacar o boneco”. O complicado é, volta e meia, conseguir que o ou a dono/a do sorriso me dê alguns nome para juntar à imagem. Faço sempre questão de o perguntar e anotar. E acrescento, em vendo alguma hesitação de maior, que escreverei o que me for dito.
Estou em crer que não chegará a 5% aqueles ou aquelas que me mentiram ao dizer o nome. Nalguns casos dei por isso e fiz-me de parvo, noutros nem o soube. Recordo apenas quatro ou cinco casos em que me foi respondido que usasse o nome que eu mesmo quisesse. Se for uma “ela” pergunto se “Maria” fica bem, se for um “ele” sugiro o “Zé”. Em regra aceitam.
Um caso houve, que me recorde e até porque recente, em que ela se recusou terminantemente a dizer ou a aceitar, desafiando-me a que lhe inventasse um e que mais tarde lho dissesse. Assim o fiz e ainda hoje, quando acontece nos encontrarmos, nos rimos da minha escolha, fruto da conversa de então.
Na imagem? Bem, esta nunca me deu o nome, pelo que simplifiquei a coisa e chamei-lhe “Boneca”.

Texto e imagem: by me

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