quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Deficiências


A primeira pessoa desta estória é bem conhecida do público português. Tenho muitas horas de emissão em que ocupou o lugar de destaque e o resultado do seu trabalho era incontestavelmente reconhecido como muito bom. Acontece, porém, que não nutro por esta pessoa simpatia alguma. Aliás, tenho-lhe uma notória antipatia, sentimento que, ao que julgo saber, é partilhado por muitos dos meus companheiros de trabalho. Mas sendo que já não trabalha connosco, pouco importa o que possamos sentir.
Importa, antes sim, saber que, quando cumpriu serviço militar em África, terá partido um pé, situação que não terá ficado resolvida por inteiro. O que lhe terá valido a designação de “Deficiente”. Ainda que eu, ou alguém com quem tenha conversado sobre o assunto, nunca lhe tenhamos ouvido um queixume ou visto algum tipo de coxear ou dificuldade de locomoção.
Certo é que, ao que se sabe e ao abrigo dessa deficiência, possui ou possuiu um lugar de estacionamento reservado pelo município em frente do seu domicilio.

A segunda pessoa desta estória é meu colega. Ao serviço da empresa, e na sequência de um acidente de trabalho, perdeu parte de uma perna. Usa uma prótese do joelho para baixo e, quem de tal não souber, só olhando com atenção se lhe notará o ligeiro coxear que possui.
Apesar disso, continua a exercer o seu ofício de repórter de imagem, carregando como os outros a câmara profissional ao ombro; nos dias combinados comparece para jogar à bola, quase como que se nada se passasse; faz questão de usar o não muito grande parque de estacionamento da empresa, deixando para quem necessite os lugares reservados a deficientes.

Resta saber quem, destes dois, será o verdadeiro deficiente. E qual a sua deficiência.

Texto e imagem: by me

1 comentário:

perplexo disse...

O do primeiro caso é deficiente, sim, que eu posso testemunhar: moral. As suas sobranceria e falta de respeito pelos outros levavam-no, entre outras coisas, a lançar para o chão do estúdio as beatas, bem ou mal apagadas, reiteradamente, acintosamente.
Por outro lado, dizia-se que fazia a ronda das entrevistas pelos que estavam muito velhos ou adoentados, apostando na maior probabilidade de ser o seu último entrevistador e possuir a sua última entrevista, mas isso já me parece um exagero, apesar da deficiência.