sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Caustico? Talvêz!
Já lhes escrevi umas três ou quatro vezes, via correio electrónico, e a resposta foi sempre a mesma: coisa nenhuma. Concluo que as relações luso-brasileiras, neste caso, esfriam um pouco devido à imensidão do atlântico.
Seja como for, fica aqui a história de memória. Sei-a desde os tempos, bem recuados, em que percorria as bancas em busca das revistas de banda desenhada. Uma das minhas favoritas era as aventuras de Mónica e do Cebolinha, das Produções Maurício de Sousa.
Nesta em particular o Franjinha cria, no seu laboratório, um líquido poderosíssimo que irá fazer explodir o mundo. Aterrado, corre pela rua gritando aos demais que fujam face àquele perigo.
Eis senão quando encontra a Mónica, a quem conta o caso. Ela nega que o mundo esteja para explodir. Ele reafirma-o. Ela torna a negar e ele insiste.
Neste impasse, e questionado pelo Franjinha, a Mónica explica que o mundo não vai explodir porque não deu na televisão.
Esta história simples, de duas páginas se a memória me não falha e com mais de um quarto de século, continua mais que actual nos tempos que correm.
Os acontecimentos que pululam pelo mundo, tantos quantos os habitantes que por cá há (multiplicados por 86400, mais coisa, menos coisa), só são reais se divulgados pelos media.
E o contrário é igualmente verdade: por muito inverosímeis, improváveis ou fantasiosos que os eventos possam ser (passe-se a contradição), ganham foros de verdade indesmentível, inquestionável e absoluta se ganharem letra de forma num periódico ou tiverem minuto e meio de imagens num noticiário.
Os órgãos de comunicação são, assim, não apenas formadores da moral pública como, e principalmente, os construtores da realidade virtual. Decidem o que é notícia (facto digno de nota) e o que não o é.
Naturalmente que, e para usar um ditado popular, “Quem calça o sapato é que sabe onde lhe aperta!”
Um embate entre dois automóveis do qual apenas resulte chaparia amolgada, só será importante para os seus proprietários, Eventualmente para os demais automobilistas que circulem naquela via e a vejam obstruída.
A menos que um dos acidentados seja uma figura do jet-set, político, desportivo ou da pantalha. Aí o assunto toma dimensões nacionais, podendo mesmo sobrepor-se a um incêndio num prédio de habitação, o lançamento de um livro ou o ter-se encontrado água numa zona seca do Alentejo.
Os critérios editoriais estão sempre dependentes das vendas, shares, publicidades e ideologias dos seus donos, editores e directores.
E o público vai dando como certo o que lhe põem nas mãos ou na sala, construindo uma imagem do mundo que o cerca com base nesses critérios.
Se o conceito de “consumidor avisado” se aplica, regra geral e bem, aos produtos alimentares e afins, deveria o consumidor de informação ser igualmente cauteloso, prestando particular atenção aos “corantes e conservantes”!
Saber ser crítico sobre a informação que se recebe e acautelar da sua validade, integridade e de que forma pode ser omisso ou exagerado é tão importante quanto o saber interpretar um prazo num iogurte ou uma mancha numa peça de fruta.
Afinal, o mundo é muito mais do que as folhas de couve ou as caixas mágicas nos contam!
Texto e imagem: by me
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