sábado, 21 de agosto de 2010

Formas e cores


Há ocasiões em que sinto velho! Absurdamente velho!

“Sei lá, posso vir a encontrar o presidente da companhia e não ficaria bem estar com essa roupa.”
Este foi um dos argumentos que aquela senhora usou para defender a “etiqueta de traje”, ou seja, que certo tipo de roupa não se deve usar no trabalho, como “havaianas”, calções, camisas de alças e afins.
Ainda me soube acrescentar, à laia de compensação, que há meses (de verão) em que há uma maior tolerância, bem como um dia por semana, podendo nessas ocasiões haver uns “mini-excessos” quanto ao formato ou cores usadas no trabalho.
“Ao fim-de-semana”, cada um usa o que quer, mas em dias de trabalho…”

É aqui que me sinto velho! Absurdamente velho! O cinzentismo e a uniformidade que vai invadindo a nossa sociedade não encaixa, de forma alguma, no conceito que tenho de uma sociedade livre. Na verdadeira acepção do termo!
Que cada um vista, coma ou se penteie como mais lhe apraz, por forma a sentir-se tão confortável e de bem consigo tanto quanto o possível, não só concordo como recomendo. Vivamente!
O problema levanta-se quando se quer impor o gosto e o conforto de uns quantos à maioria, forçando-os a sentirem-se confortáveis de acordo com o gosto de uns poucos.
Vivemos numa sociedade dita livre, mas apenas enquanto nos encaixarmos nas formas, nos moldes, nas cores definidas por alguns como sendo o “correcto”.
Qual uma velha oliveira, transplantada de onde a natureza cresce com a exuberância que lhe é própria para um parque infantil suburbano onde tudo re-pinta de cinza, vou assistindo ao renascer do Preto & Branco transfigurado em cinzentos informes.
E a sentir uma terrível nostalgia dos tempos em que, tal como a vegetação, cada um vestia cores e formas de acordo com os seus próprios gostos, fosse quem fosse o vizinho, o chefe ou o presidente da companhia.
Estou a ficar velho! Absurdamente velho!

Texto e imagem: by me

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