Em tempos já
distantes, quando o digital era só a ponta do dedo, eu carregava um montão de
filtros comigo.
Na verdade, tinha
dois montões de filtros, diferentes: um específico para fotografia em preto e
branco, o outro para cor. Mesmo que alguns fossem comuns a um e outro tipo de
imagem.
Sabemos – ou pelo
menos sabem aqueles que fotografam ou fotografaram em película e em preto e
branco – a vantagem dos filtros: controlo de contraste.
E era – é – fácil
saber se o fotógrafo está a usar película monocromática: costumam ter sempre um
filtro amarelo ou verde pálido montado, mesmo que não tenham muitas certezas da
sua finalidade. Por vezes mesmo o laranja.
Em termos de
fotografia em cor – e fotografava sempre em diapositivo – as séries “80”
andavam sempre comigo: os 81’s e 82’s, bem como o 80a, 80b, 85a e 85b. E um
sépia muito pálido, que foi difícil de encontrar. Tal como os “FL”, “d” ou “w”.
A finalidade era
simples.
Pese embora que o
rigor da fidelidade da cor registada fosse importante em alguns trabalhos –
pessoais ou encomendas – o que me importava era a subjectividade da cor
resultante. A película estava calibrada para uma dada sensibilidade cromática
(em regra para luz de dia ou 5500 Kelvin) mas eu sempre quis que as cores
resultantes fossem as que sentia ao olhar para o assunto e não a frieza da física
e da química. Aquecer ou esfriar a imagem de acordo com os sentimentos, para
além do que realmente acontecia.
É um clássico
dizer-se que um retrato feminino deverá ser “aquecido” e que um masculino
deverá ser “arrefecido”. Estereotipos sobre o género que demasiadas vezes não
batem certo. Tal como sobre paisagens rurais ou citadinas, objectos ou mesmo
abstractos.
A cor está
intimamente relacionada com os sentimentos, mesmo para além do balanço
verde/azul. E se a imagem que produzo é, também, um reflexo dos meus
sentimentos, então ela deverá lá estar expressa. Mesmo que em doses subtis.
Nos tempos que
correm a coisa tornou-se mais fácil e mais difícil ao mesmo tempo.
Mais fácil, já que
a calibração da sensibilidade cromática no momento do disparo é facílima: dois
ou três cliques num qualquer menu e está feita. Quer se trate da fidelidade à
fonte de luz que ilumina o assunto, quer se trate à subjectividade das nossas
emoções.
Mais difícil
porque a pós-produção permite tudo e mais um par de botas. Todas as cores podem
ser evidenciadas ou minoradas, de acordo com as vontades sentidas em frente do
ecrã. E, por vezes, a vontade é grande.
A questão está, as
mais das vezes, em se aquilo que se altera umas horas valentes depois (dias
mesmo) da tomada de vista corresponde ao que se sentiu ao premir o obturador.
Muitas vezes não.
Quer seja porque
já dormimos entretanto, quer seja porque depois da tomada de vista, e ainda no
local, vimos ou sentimos diferente, quer seja porque a calibração do monitor e
as luzes de trabalho nos induzem em erro… São muitas as variáveis na
pós-produção ou edição.
A minha abordagem
costuma ser constante, no que toca a subjectividades.
Tal como decido,
no momento de enquadrar, qual vai ser o enquadramento final, já que o formato
da câmara não me agrada, também costumo decidir da cor: se a forma como tenho a
câmara calibrada é suficiente ou se terei que fazer correcções ou alterações
posteriormente. Ou ajustes de contraste ou saturação.
Estas decisões
passam por pensar, mesmo antes de levar a câmara à cara, sobre o que me atraiu
ou incomodou. Por vezes fico uns minutos a olhar para o assunto, tentando
perceber e relacionar o que estou a ver e a sentir. Outras é de imediato, sem
hesitações.
Estes ajustes,
pequeníssimos por vezes, de fundo outras, nem sempre são fáceis.
Implicam, por
exemplo, lembrar-se de qual das câmaras estou a usar no momento. Uso com
regularidade uma Pentax K7, DSLR, e uma Nikon Coolpix 7000. E por muito que os
fabricantes se esforcem, os resultados são diferentes no que toca a subtilezas
de cor e contraste.
Conhecer o que se
tem na mão, imaginar o resultado final, conhecer o ou os monitores com que se
trabalha, torna-se vital neste processo. Tal como interpretar as nossas próprias emoções e
perceber como as transpor para o registo fotónico final.
By me
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