sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Mentira fotográfica



A fotografia não é uma representação da realidade!
Na melhor das hipóteses, será uma representação da realidade mental de quem a fez, exprimindo sensações e memórias.
Há, no entanto, uma fronteira entre o registo do que existe e o exibir o que nunca existiu mas que foi sentido.
Essa fronteira acontece aquando da exibição!
Quando digo, ao mostrar uma imagem, “Isto foi o que aconteceu!” estou de um lado da fronteira. Quando eu digo, ao mostrar uma imagem, “Isto foi o que senti!”, estou do outro lado.
Esta fronteira tem que estar razoavelmente explícita, mesmo que implícita, perante quem vê a imagem.
Uma imagem parcialmente em cores, parcialmente em preto e branco não engana ninguém: é uma expressão plástica de sentimentos.
Uma imagem de um cenário bélico, feita por um fotógrafo credenciado e honesto também não engana ninguém: aquilo aconteceu mesmo. Pese embora todas as opções técnicas e estéticas que possam ser usadas.
Já complicado é, por exemplo, o recurso ao HDR. Se pode ser usado para evidenciar contrastes e cores que, aquando da tomada de vista, não foram possíveis de registar porque o equipamento não tinha possibilidade para tal, quando se ultrapassa esse limite, e antes de se entrar na assumida fantasia, o terreno é pantanoso. E é legítimo quem vê questionar “Era mesmo essa luz? Ou andaste a inventar?”
Por mim, que procuro não me afastar da realidade fotográfica (mesmo quando invento situações que fotografo), incomoda-me que me perguntem “Isso foi com o photoshop, não foi?”
Nos tempos que correm e com as facilidades de edição disponíveis, já é difícil dar crédito às imagens que vemos enquanto reproduções de uma situação real. Porque cada vez mais se usam das técnicas de laboratório digital para transformar a realidade em ficções desejadas, exibindo-as como se realidade se tratassem.
O erro ou embuste não está na alteração da realidade fotografada. Que se a ficção e o sonho não fossem legítimos, a vida seria uma sensaboria.
O “crime” está em mostrar o falso como real, em enganar quem vê.
Tenho por dogma que não há imagens erradas, mal feitas ou “mentirosas”. O que existe, antes sim, é a forma como são mostradas e a classificação que lhes são atribuídas.

A imagem aqui exibida é um exemplo clássico da “mentira fotográfica”.
Alguém que caiu em desgraça (na verdade, foi preso e executado) e que foi apagado das imagens oficiais.

Mas entre isto que aqui vemos e que foi “roubado” da net, e a miríade de outros exemplos não tão violentos com que somos confrontados diariamente nos media (nas suas diversas formas e suportes) e nas redes sociais, a diferença está apenas na desfaçatez da mentira e na forma como é apresentada.

By me 

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