Fizeram-me um
desafio que até tem graça. Alguma.
Porque acho que a
intimidade do passado de cada um deverá ficar no recato que cada um ache que
deve ter e não ao sabor dos desafios de terceiros.
Mas este até tem
alguma graça.
Por isso alinho
nele, pese embora não desafie na mesma linha ninguém. Manias.
Mas, fazendo-o,
recorro a uma imagem e respectivo texto que já por aqui tinha deixado, há pouco
mais de um ano.
Fica a repetição,
com o mesmo título: “Em torno de uma fotografia”:
Esta fotografia
tem uns quarenta e cinco ou seis anos, mais ou menos uns meses.
Foi feita aquando
da minha quarta classe, no pátio da escola que frequentei.
Dos que aqui estão
recordo quase todos. Pela cara a maioria, pelo nome alguns. A uns acompanhei
por uns anos, noutras escolas e aprendizagens, aos outros perdi o rasto.
Mas o que recordo,
pessoas, espaço, árvore e janelas, não é agora importante. Esta fotografia,
encontrei-a num envelope, junto com mais quatro, onde eu mesmo consto. Terão
sido feitas por um fotógrafo “profissional”, que deveria correr pelas escolas
da zona, aceitando as encomendas da memória para a posteridade. Várias da mesma
criança, em várias situações, para que os familiares se sentissem tocados e as
comprassem. Nenhuma espontânea, mas todas marcando uma época.
Mas o que também
marca essa época, e acredito que o fotógrafo não contasse com isso, é o que
consta no envelope que as contém: o preço.
Escrito a lápis a
quantia de 100$00. Vinte escudos por cada fotografia.
E, se eu bem me
recordo daquilo que minha família contava de quanto ganhava na altura, e éramos
bastantes em casa, uma verdadeira fortuna. Para ser sincero, não quero imaginar
o que, nessa altura, terá sido deixado de fazer para que estas fotografias
tivessem sido compradas.
Pergunto-me agora
se hoje, no séc. XXI, na era das tecnologias da informação e da banalização da
imagem, se alguém faria tamanha despesa. De uma forma ou de outra, toda a gente
tem uma câmara, tenha ela a qualidade que tiver. E aqueles que não as têm,
provavelmente nem têm os seus filhos na escola.
E terão as
imagens feitas hoje o valor comercial que esta teve nessa altura? Ou, indo um
pouco mais longe: durarão as fotografias deste género, feitas com as técnicas e
os suportes de hoje, tanto tempo?
Fica o alerta para
os pais e avós dos tempos modernos para que acautelem e preservem as suas
fotografias. E, se quiserem por a sorrir ou pensar daqui por umas dezenas de
anos os que hoje são pimpolhos, ponham-lhes o preço atrás.
By me
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