sábado, 18 de outubro de 2014

Paciência ou falta dela



Incomoda-me, bastante para além do tolerável, ver como as actuais comunicações moveis se impõem nos relacionamentos humanos.
Já nada digo sobre os olhares que me lançam quando digo que não tenho telefone celular (ou telemóvel). É mentira, porque o tenho, mas não me apetece ter o meu número por aí disseminado para ser interrompido quando apetece a alguém, para uma qualquer campanha comercial.
Também não é particularmente cordial o interromperem-se conversas ou qualquer outra actividade social porque surgiu uma chamada telefónica ou chegou uma mensagem. O mundo pára e tudo perde importância perante o aparelhómetro, ficando os demais para segundo plano. Presumindo que continuam a existir nas mentes de quem assim procede.
Nos tempos que correm, e para além das comunicações por voz, interpõem-se as comunicações das redes sociais. O acesso a esta ou aquela rede não está no bolso mas na mão, permanentemente e sobrepondo-se a quase tudo o resto.

Um destes dias, numa cantina, a pessoa que estava à minha frente a colocar o almoço no tabuleiro ia entretida a ver o que acontecia num desse aparelhos moveis e numa dessas redes sociais. Por aquilo que pude ver, não estava a interagir com ninguém ou concentrado numa página específica: apenas ia descendo a página, vendo de relance o que nela constava.
A sua concentração nessa actividade era tal que os que atrás dele estavam já quase bufavam (eu bufava) pela demora em avançar.
Em chegando finalmente à caixa para pagamento, nem sequer olhou para quem estava a fazer o registo e a cobrar: ficou ali parado, olhando para o telemóvel, enquanto a mocinha olhava para ele, à espera que lhe fosse entregue a quantia já anunciada. Nada, que o facebook era mais interessante.
Fui além do bufar e agi!
Dando-lhe uma cotovelada no braço que segurava o aparelho, tirando-o da sua linha de visão, perguntei-lhe meio agressivo:
“Se fosse ela a não lhe prestar atenção, e fosse você ficasse à espera que o atendesse, que reacção teria? Largue lá essa m…, siga a sua vida e não atrapalhe os outros!”
Se o seu olhar disparasse eu teria sido transformado em passador de rede!
Não largou, mas lá seguiu, pagando e deixando os outros fazer o mesmo. Mas bufava mais que todos nós, atrás, em conjunto.

Não tenho muita paciência, aliás não tenho paciência alguma, para estas situações.


By me

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