Precisei de um
teclado novo. Uma daquelas coisas que acontece a quem usa teclados.
Sendo certo que os
teclados que uso têm que responder a algumas características específicas de
tamanho, e sendo igualmente certo que não confio por demais no que é vendido
nas lojas dos chineses, acabei por optar por ir a uma loja de electrónica de
consumo e electrodomésticos que existe no supermercado do meu bairro. Sei que aí
há o que quero.
Já lá dentro e já
com o teclado debaixo do braço, fui dar uma olhada na secção das câmaras fotográficas.
Não que esteja a pensar comprar uma. Mas, volta e meia, há quem me peça a opinião
para a compra de uma câmara de baixo custo e gosto de saber o que há e a que
preços.
Estava eu
entretido a olhar para o exposto quando um “solícito” vendedor me aborda,
perguntando-me se quereria eu ajuda.
Meio a sorrir,
rodei um pouco sobre mim mesmo, mostrando-lhe a DSLR que trazia pendurada, e
perguntei-lhe em resposta: “Acha que preciso?”
“Não tinha visto”,
respondeu-me. “Mas como elas são tão diferentes…”
Achei que o tom
era uma forma discreta ou dissimulada de me chamar cota ou ignorante. Talvez
que imaginação minha. Mas não gostei.
Já no balcão, e em
estando a ser atendido por uma mocinha, o rapaz aproximou-se. E eu, que ainda não
tinha engolido tudo, tirei do bolso do colete este fotómetro, entreguei-lho e
perguntei:
“Sabe para que
serve isto? Sabe usá-lo?”
Ficou a olhar para
o estojo, sem saber que responder. E tirei-o do estojo, mostrando-lho como aqui
se vê.
Soube dizer-me que
era para a luz, mas não soube ir mais longe.
E eu, tentando
fazer passar na garganta aquilo que ainda não tinha engolido, continuei:
“Se não sabe para
que serve isto, que é muito mais velho que você e não o último grito da
tecnologia de consumo rápido, como pensa que me pode ajudar com uma daquelas câmaras?”
Abanou, mas não
cedeu. E perguntou-me:
“E como é que
guarda as fotografias?”
“Em folhas de mica
ou envelopes sobre-compridos, se forem negativos, em dois discos externos se
forem digitais.”
Aqui desistiu.
Depois de mais uma ou duas larachas minhas sobre a velha disputa entre “câmara”
e “máquina”, acabou por se afastar, deixando-me entregue à mocinha, que estava
meio de boca aberta.
Toda esta conversa
não faria sentido se:
a) Não fosse numa
grande superfície, onde a embalagem conta mais que o produto e a minha
embalagem, no queixo e na cabeça, não fosse branca;
b) Se as pessoas
escolhidas para atender o público soubessem um pouquinho mais sobre os artigos
que vendem;
c) Se a arrogância,
disfarçada de cordialidade, não fosse o pão-nosso-de-cada-dia nas relações sociais
dos tempos que correm.
Ainda que não
acredite, espero que o rapazinho tenha aprendido a lição não encomendada. Mas o
seu objectivo é, eventualmente, ganhar as comissões daquilo que vende e nada
mais.
By me
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