sábado, 25 de outubro de 2014

Volta e meia tenho mau feitio (às vezes é só meia volta)



Precisei de um teclado novo. Uma daquelas coisas que acontece a quem usa teclados.
Sendo certo que os teclados que uso têm que responder a algumas características específicas de tamanho, e sendo igualmente certo que não confio por demais no que é vendido nas lojas dos chineses, acabei por optar por ir a uma loja de electrónica de consumo e electrodomésticos que existe no supermercado do meu bairro. Sei que aí há o que quero.
Já lá dentro e já com o teclado debaixo do braço, fui dar uma olhada na secção das câmaras fotográficas. Não que esteja a pensar comprar uma. Mas, volta e meia, há quem me peça a opinião para a compra de uma câmara de baixo custo e gosto de saber o que há e a que preços.
Estava eu entretido a olhar para o exposto quando um “solícito” vendedor me aborda, perguntando-me se quereria eu ajuda.
Meio a sorrir, rodei um pouco sobre mim mesmo, mostrando-lhe a DSLR que trazia pendurada, e perguntei-lhe em resposta: “Acha que preciso?”
“Não tinha visto”, respondeu-me. “Mas como elas são tão diferentes…”
Achei que o tom era uma forma discreta ou dissimulada de me chamar cota ou ignorante. Talvez que imaginação minha. Mas não gostei.
Já no balcão, e em estando a ser atendido por uma mocinha, o rapaz aproximou-se. E eu, que ainda não tinha engolido tudo, tirei do bolso do colete este fotómetro, entreguei-lho e perguntei:
“Sabe para que serve isto? Sabe usá-lo?”
Ficou a olhar para o estojo, sem saber que responder. E tirei-o do estojo, mostrando-lho como aqui se vê.
Soube dizer-me que era para a luz, mas não soube ir mais longe.
E eu, tentando fazer passar na garganta aquilo que ainda não tinha engolido, continuei:
“Se não sabe para que serve isto, que é muito mais velho que você e não o último grito da tecnologia de consumo rápido, como pensa que me pode ajudar com uma daquelas câmaras?”
Abanou, mas não cedeu. E perguntou-me:
“E como é que guarda as fotografias?”
“Em folhas de mica ou envelopes sobre-compridos, se forem negativos, em dois discos externos se forem digitais.”
Aqui desistiu. Depois de mais uma ou duas larachas minhas sobre a velha disputa entre “câmara” e “máquina”, acabou por se afastar, deixando-me entregue à mocinha, que estava meio de boca aberta.

Toda esta conversa não faria sentido se:
a) Não fosse numa grande superfície, onde a embalagem conta mais que o produto e a minha embalagem, no queixo e na cabeça, não fosse branca;
b) Se as pessoas escolhidas para atender o público soubessem um pouquinho mais sobre os artigos que vendem;
c) Se a arrogância, disfarçada de cordialidade, não fosse o pão-nosso-de-cada-dia nas relações sociais dos tempos que correm.


Ainda que não acredite, espero que o rapazinho tenha aprendido a lição não encomendada. Mas o seu objectivo é, eventualmente, ganhar as comissões daquilo que vende e nada mais.

By me 

Sem comentários: