Tenho
duas certezas na vida: que irei morrer e que ninguém escreverá na minha tumba “aqui
jaz um tipo de bom feitio”!
Precisei
de comprar uma pasta. Daquelas de cartão, com elástico, em tamanho A4, barata
de preferência, e que não tivesse desenhos demasiado extravagantes.
Podendo
ir a vários locais, optei por fazer o negócio numa papelaria aqui da minha
zona. A diferença de preço existe, é verdade, mas sempre vou dando o meu apoio
ao comércio local. Que merece e necessita.
Entrei
na loja, disse ao que ia, a senhora mostrou-me várias, escolhi uma, ela guardou
as restantes e eu estiquei-lhe uma nota de cinco euros para pagar.
Nesse
momento tocou um telemóvel. Que estava no seu bolso das calças.
Pousou
a nota no balcão, pôs-lhe a mão esquerda em cima e, com a direita, atendeu a
chamada. Sem uma palavra que fosse para mim.
Fiquei
a saber que falava com uma tal de Isabel, que tinha uma prima e um marido e que
havia problemas no casal.
E
fiquei a saber tudo isso porque a chamada durou cinco, dez, vinte, trinta,
cinquenta, oitenta segundos, talvez mais.
Quando
me fartei de esperar pacientemente, estendi a mão para a nota e retirei-a de
sob a sua. Olhou para mim, estranhando.
Guardei-a
na carteira com um sorriso, ao mesmo tempo que empurrava para ela a tal pasta
que ainda estava no balcão.
E
desejei-lhe as boas tardes, enquanto ela tentava, em simultâneo, responder ao
telefone e dizer-me já nem sei o quê.
Saí!
Como
disse acima, não tenho bom feitio. Mas vou melhorando.
É
que consegui não recorrer a vernáculo nem levantar o tom de voz.
Talvez
que daqui a duzentos e cinquenta anos eu esteja no ponto certo para aturar
coisas destas sem reagir.
By me
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