terça-feira, 29 de julho de 2014

Experiências



Foi há já uns anitos: Estive numa das exposições que mais me marcaram, pese embora não tenha visto coisa alguma.
Tratou-se de uma exposição de fotografias para cegos, que decorreu no Museu do Regimento de Sapadores Bombeiros, em Lisboa.
Impressas em relevo, estavam acompanhadas de uma breve explicação em braile e em paralelo com as fotografias “normais” e o mesmo texto escrito “normalmente”.
Os visitantes dotados de visão eram convidados a colocar uma venda e percorrem a exposição vendo aquelas imagens como os cegos as “vêem”: com a ponta dos dedos.
Assombroso! Para mim, ligado desde sempre à produção e consumo de imagem visual, foi das experiências mais elucidativas que vivi neste campo. E entendo que todos os profissionais da imagem e da comunicação (ou candidatos a tal) deveriam ser obrigados a passar por tal. Para que entendam na pele e na ponta dos dedos o que é não aceder àquilo que produzimos.
Único e inolvidável!
A exposição integrou a iniciativa “Sentidos sem barreiras”, organizada pelo Oculista das Avenidas e a Câmara Municipal de Lisboa em parceria com a Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal.
A mesma câmara municipal que agora pretende demolir o museu e quartel, vendendo o terreno que é fortemente cobiçado pelo hospital que lhe é contíguo. Mas que não informa se pretende substituir e onde aquela infra-estrutura de socorro às populações e de conservação da história da cidade.
Mas suponho que seja bem mais importante o aumento da capacidade de um hospital privado que a prontidão e capacidade de socorro de uma corporação de bombeiros.

Nota extra:
Juro que me é muito difícil pedir a um cego que me deixe fotografá-lo. Ou, bem pior, fazê-lo sem que o saiba. Que fazer a uma pessoa algo que ela não sabe nem saberá o que é…

By me

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