sábado, 26 de julho de 2014

Cigarros



É verdade que sim: sou fumador.
Também é verdade que de há uns anos a esta parte sou eu que faço os meus cigarros.
Comecei a fazê-los meio por brincadeira, meio por motivos económicos, gostei do resultado e venho mantendo o hábito. De manhã, ou à noite antes de me deitar, trato de encher os tubos, que compro feitos, com o tabaco já cortado que compro em latas, usando para tal uma maquinetazinha muito simples completamente manual.
Este tempo que gasto, melhor, este tempo que uso a encher cigarros é um daqueles momentos em que, devido a ser uma actividade completamente manual, automática e a não necessitar de qualquer esforço intelectual, deixo a mente vogar para onde lhe apetece, umas vezes a completar um qualquer puzzle de uma qualquer ideia, outras a aquilatar do tempo recente, outras ainda pensando em coisa alguma. Uma espécie de momento zen diário.
O fornecimento de tabaco e tubos é feito num café aqui da minha rua. Uma vez por semana o fornecedor abastece o café, uma vez por semana abasteço-me eu, que a dona, em tendo-me cliente certo, guarda-me as latas e a caixa.
Esta semana houve um percalço: em chegando e perguntando p’la “latinhas”, disse-me ela que a carrinha do fornecedor tinha sido assaltada, levando-a e ao conteúdo. Não tinha tabaco p’ra mim.
Um incómodo p’ra todos: o dono da carrinha com o prejuízo do assalto, a dona do café com a mercadoria que não vende, eu com o que não compro. O meu problema era, ainda assim, o menor: costumo estar adiantado uns dias no que tenho em casa, p’lo que não “ficava apeado”. E disse-o à senhora.
Pois a boa da senhora, em sendo rendida a meio do dia p’lo marido e filho no balcão, tratou de ir ela mesma ao armazém que vende estes produtos para se abastecer.
De acordo com ela e por azar, havia de tudo menos do que eu consumo. E foi ela a um outro, tendo uma margem de lucro inferior, só para não deixar de vender a um cliente regular.
Chama-se a isto sentido do negócio, chama-se a isto tratar bem os clientes, chama-se a isto ser simpática. Que ela sabe que na semana seguinte lá estaria eu de novo.
Se não fosse eu cliente habitual e estes pequenos nadas fazer-me-iam sê-lo.
Assim se encontrasse este tipo de atendimento nas grandes superfícies e em algumas lojas, onde mais um, menos um cliente é indiferente.


Viva o comércio de proximidade!

By me

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