É verdade que sim:
sou fumador.
Também é verdade
que de há uns anos a esta parte sou eu que faço os meus cigarros.
Comecei a fazê-los
meio por brincadeira, meio por motivos económicos, gostei do resultado e venho
mantendo o hábito. De manhã, ou à noite antes de me deitar, trato de encher os
tubos, que compro feitos, com o tabaco já cortado que compro em latas, usando
para tal uma maquinetazinha muito simples completamente manual.
Este tempo que
gasto, melhor, este tempo que uso a encher cigarros é um daqueles momentos em
que, devido a ser uma actividade completamente manual, automática e a não
necessitar de qualquer esforço intelectual, deixo a mente vogar para onde lhe
apetece, umas vezes a completar um qualquer puzzle de uma qualquer ideia, outras
a aquilatar do tempo recente, outras ainda pensando em coisa alguma. Uma espécie
de momento zen diário.
O fornecimento de
tabaco e tubos é feito num café aqui da minha rua. Uma vez por semana o
fornecedor abastece o café, uma vez por semana abasteço-me eu, que a dona, em
tendo-me cliente certo, guarda-me as latas e a caixa.
Esta semana houve
um percalço: em chegando e perguntando p’la “latinhas”, disse-me ela que a
carrinha do fornecedor tinha sido assaltada, levando-a e ao conteúdo. Não tinha
tabaco p’ra mim.
Um incómodo p’ra
todos: o dono da carrinha com o prejuízo do assalto, a dona do café com a
mercadoria que não vende, eu com o que não compro. O meu problema era, ainda
assim, o menor: costumo estar adiantado uns dias no que tenho em casa, p’lo que
não “ficava apeado”. E disse-o à senhora.
Pois a boa da
senhora, em sendo rendida a meio do dia p’lo marido e filho no balcão, tratou
de ir ela mesma ao armazém que vende estes produtos para se abastecer.
De acordo com ela
e por azar, havia de tudo menos do que eu consumo. E foi ela a um outro, tendo
uma margem de lucro inferior, só para não deixar de vender a um cliente
regular.
Chama-se a isto
sentido do negócio, chama-se a isto tratar bem os clientes, chama-se a isto ser
simpática. Que ela sabe que na semana seguinte lá estaria eu de novo.
Se não fosse eu cliente
habitual e estes pequenos nadas fazer-me-iam sê-lo.
Assim se
encontrasse este tipo de atendimento nas grandes superfícies e em algumas
lojas, onde mais um, menos um cliente é indiferente.
Viva o comércio de
proximidade!
By me
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