O
prédio em que moro é grande. Não será um arranha-céus ou um monstro, mas é
grande.
Nove
pisos acima, quatro abaixo do piso térreo. Com vários apartamentos por piso. É
grande.
O
seu tamanho e quantidade de fogos levou a que fosse construído com três
elevadores, todos iguais e numa caixa central. Que, como se imagina, na horas
de saída ou de regresso a casa, têm bastante movimento.
Hábito
meu, antigo, é o de reenviar o elevador que uso para o piso zero. Gosto que
esteja um ali quando chego e parto do princípio que todos os restantes
moradores também gostam. Sempre são uns segundos que se ganham, por vezes em momentos
de aperto.
E
sei que sou o único a tal fazer, pelo menos por aqui. Dias há em que, em
chegando, estão todos no nono piso. Não é grave que os outros o não façam. Mas
gostava que assim sucedesse. Afinal, todos gostamos do mesmo.
Mas
também há dias em que a vontade de o fazer é menor que unhas de formiga. Tenho
vizinhos que nem a saudação dão, nem se dão ao trabalho de segurar a porta para
quem vem atrás e, em olhando quem com eles partilha o elevador, parecer que
lhes estamos a roubar ar para respirar.
Pergunto-me,
nessas ocasiões, para que raio me dou eu ao trabalho de pensar e agir em prol
destes e de todos os outros quando, para estes, o seu umbigo é a coisa mais
importante do universo.
Por
sorte colectiva, a minha raiva desvanece-se rapidamente e acabo por fazer o de
sempre: mandar o elevador para o piso zero, ficando com a satisfação de saber
que deste meu esforço de segundo e meio, se tanto, resulta benefício para alguém,
incluindo esses tais. Mesmo que no anonimato de um gesto solitário.
Que
a satisfação que tenho em fazer p’los outros é incomensuravelmente maior que a
raiva que tenho p’los vizinhos egoístas.
By me
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