quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Por um cigarro




Encontrámo-nos por mero acaso junto à igreja de São Domingos, em Lisboa: eu de passeio, ele em trabalho.
E enquanto esperava ele que saíssem os fieis para um “voz populi”, ficámos à conversa sobre os tempos idos e os tempos presentes.
Enquanto ali estivemos, quatro ou cinco aproximaram-se de nós por um cigarro. Todos daqueles que por ali costumam estar, mesmo depois do anoitecer e já com vários grãos na asa.
Um deles, depois de receber o que pedira e de um início de conversa forçosamente atabalhoado e p’lo próprio reconhecida como já confusa, quis-lhe agradecer a dádiva com um aperto de mão. Que o meu interlocutor recusou, não muito disfarçadamente.
Quando ficámos só os dois, ouvi-lhe:
“Pois! Somos todos iguais, mas uns mais limpos que outros, caramba. Sei lá por onde andou ele com as mãos!”
Quando, muito pouco tempo depois, me afastei, foi a sua vez de ficar com a mão estendida e vazia.
É que, caramba digo eu, acredito que a sua mão estivesse limpa. Mas a sua mente, essa, bem p’lo contrário.

By me 

Sem comentários: