sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Cogitações matinais de quem espera p'lo café




Enquanto preparo o matinal café, vou mantendo a janela da cozinha aberta. O vento não se manifesta, talvez que antecipando a borrasca, a temperatura não assusta e as nuvens parecem querer contrariar as previsões, ainda que não por muito tempo.
E, lidando eu com água, pó castanho e demais ingredientes, entra-me p’la janela um som forte, ecoando nas paredes da praceta, replicando-se nas paredes da cozinha, repetitivo, com uma cadência e tom que identifiquei de imediato. Apesar disso, e por via de dúvidas, espreitei.
Não me havia enganado: o que ouvia era mesmo o de tacões de botas femininos, batendo forte no asfalto, cortando caminho p’lo parqueamento. Talvez que indo já atrasada para a estação de comboios, bem lá mais em baixo.
E enquanto a água subia e depois descia, transformada no líquido que me haveria de acordar p’ro mundo, perguntei-me uma vez mais:
Será que as senhoras, quando escolhem calçado na loja, testam o som dos seus tacões, volume e tom, por forma a garantirem que a sua passagem é notada a dezenas de metros, mesmo por cegos e dorminhocos?
E se esta afirmação de presença e individualidade é bem notória numa praceta sem vento, com o alerta a resvalar p’las paredes acima, nos lugares de chão falso, técnico ou não e onde o silêncio é de oiro, o desejo de notoriedade redunda no inverso: há quem se volte, num misto de curiosidade e fúria, querendo saber quem será o equídeo que assim trota e tudo perturba.
Acaba por ser um exercício de observação interessante: em tratando-se de gente conhecida (trabalho, família, grupos de interesse) relacionar o uso de tais afirmações de presença com as personalidades de quem os usa.

Nota final: enquanto me entretinha a brincar com estas letras e palavras, e já depois de ter a imagem tratada, confirmou-se o adágio popular: a bonança antecede a tempestade. Vou esperar p’lo oposto, já com o café na chávena.

By me 

Sem comentários: