quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Televendas




Algumas estações de televisão usam o tempo de emissão nocturno, em que quase não têm audiência, com programas do chamado “televendas”.
Chamar-lhes programas é um luxo. Na prática são anúncios comerciais, uns mais bem feitos que outros, de longa duração, que primam por ser repetitivos até apara além da exaustão.
Referem produtos que não se encontram à venda nas lojas comerciais mas tão só por encomenda telefónica, via web ou na loja especial do anunciante.
Costumam, também, vender dois artigos pelo preço de um, terem promoções se a encomenda for feita nos próximos 30 minutos, garantir a satisfação ou a devolução do dinheiro e um outro sem número de atractivos.
Estou em crer que a maioria são rodados nos USA, onde esta indústria de publicidade é bastante forte, e são interpretados por actores profissionais. Pelo menos profissionais dos anúncios.
Admito que tenho alguma dificuldade em ver estes anúncios. Uma das suas tónicas constantes é o entusiasmo por parte de quem representa, a ponto de quase parecerem ter descoberto o elixir da juventude. Mas se não o anunciam ou vendem, pelo menos promovem frigideiras inquebráveis e inalteráveis ao calor, feitas com o mesmo material da naves espaciais, tónicos capilares, capazes de fazer crescer cabelo onde todos os outros falharam e compostos de ervas recolhidas nos cinco continentes, próteses removíveis que anulam o ressonar e devolvem a felicidade conjugal… Produtos capazes de revolucionar a vida de qualquer um!

Como sei eu estes detalhes?
Na verdade não tenho insónias nem sequer vejo os anúncios em casa.
Acontece que, quando tenho horários de trabalho a começar de madrugada, costumo ir ao bar da empresa por um café e um bolo antes de mergulhar a sério naquilo que me paga o salário. E nesse bar há um televisor. E esse bar tem atrás do balcão sempre a mesma senhora a esta hora. E esta senhora está todos os dias, leia-se TODOS, com o televisor sintonizado num desses canais, para onde fica a olhar embevecida quando não tem clientes para atender.
Acredito que esta senhora já saberá os anúncios de cor e que a sua concentração neles é um desafio pessoal: o ser capaz de reproduzir todas e cada uma das falas usadas em cada um dos spots publicitários.
Só isso justifica que esta senhora esteja todos, leia-se TODOS, os dias tão concentrada a ver as mesmas imagens e ouvir os mesmos sons.
Ou isso ou… Não! Não é possível que a estupidificação da sociedade moderna tenha ido tão longe que justifique uma segunda alternativa.
Pergunto-me que faria ela, nas ausências de clientes, se não pudesse seguir estes programas seus favoritos.
Tal como me pergunto quantos estarão, ao mesmo tempo que ela, a fazer o mesmo exercício.

By me 

Sem comentários: