quarta-feira, 6 de maio de 2015

Armado em Apolo





Gostar eu tanto de situações de contra-luz terá alguma coisa a ver com a forma como vejo a sociedade actual?
O contra-luz de que tanto gosto, em particular na natureza, permite ver a translucidez de folhas e pétalas, mostrando texturas e nervuras, indo um bom pedaço para além do olhar a superfície que nos é exposta.
Uma coisa tenho eu por dogma: aquilo que vejo, de bonito ou não, num baldio, num bosque ou mesmo num jardim urbano, tenho-o por sagrado! Jamais me passará pela cabeça colher uma folha, flor ou insecto para o colocar de modo a poder fotografá-la. Para além de provocar uma morte desnecessária, fútil mesmo, apenas para meu prazer fotográfico, privaria com isso que outros também se deliciassem com o que nos é mostrado.
Assim, ou bem que aproveito a luz existente ou, fazendo-me de deus Apolo, re-invento a luz, evidenciando pormenores, escondendo fundos.
O preço da blasfémia? O volume e peso da minha mochila.
O prémio? Coisas como esta.
E a certeza de que o mundo talvez tenha ficado mais rico com a minha imagem e não mais pobre com o colher de uma flor. 

By me

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