sábado, 19 de julho de 2014

Não é fofinha



Esta não é uma fotografia fofinha! Mas toca-me fundo na memória, já que foi uma “primeira vez”:
Foi por causa desta porta que, pela primeira vez, andei a fugir à polícia depois da revolução, por via de fotografias.

Estava-se nos finais dos anos setenta e decorria naquele dia um conjunto de greves e manifestações.
Decidi eu ir fotografar o que se passava em frente ao meu sindicato. Não contava com o que me esperava: um cordão policial cercava o edifico, a meio de um quarteirão, e ninguém se podia aproximar.
De longe ainda fiz algumas fotografias (que tenho por aí no arquivo, não sei onde), mas o chefe do destacamento não gostou e quis deter-me, mandando alguns agentes no meu encalço. Apercebi-me e afastei-me p’lo jardim, numa espécie de jogo do gato e do rato, que eles pareciam não querer fazer grande alarido com a coisa.
Safei-me de mais “incómodos” por ter subido a bordo de um eléctrico, em andamento. Eles não quiseram “agarrar-me” lá dentro.

Foi a primeira.
O sindicato já não é aqui e a polícia já não cerca sindicatos.
De então para cá, tenho tido a minha quota-parte de situações equivalentes, com algumas detenções inconsequentes e sem se chegar a confrontos físicos. Mas algum medo p’lo caminho, isso garanto.

Esta não é uma fotografia fofinha. Mas recordar a “primeira” tem sempre o seu quê de fôfura.

By me 

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