quinta-feira, 17 de julho de 2014

Emoções



Uma sombra não tem emoções.
Existe apenas e na exacta medida da superfície onde se projecta, do objecto que se interpõe no caminho da luz e do tamanho da fonte que a provoca.
Uma sombra não tem emoções.
Será mais dura ou mais suave, mais incómoda ou mais simpática, mais longa ou mais curta. Até cobrir o mundo.
Mas uma sombra não tem emoções.
Uma sombra relata, com rigor geométrico, as posições relativas do plano de projecção, do objecto e da luz. Evidencia texturas e volumes, contrasta superfícies, simula tamanhos. Até opacidades.
Mas uma sombra não tem emoções.
Movimenta-se com o movimento do sol, do chão, do vento. Refresca ou atrapalha. Pode, até, criar sonhos.
Mas uma sombra não tem emoções.

E se eu, que trabalho com luzes e sombras, que trabalho as luzes e as sombras, as matizes, as nuances, não tiver emoções, mesmo perante uma sombra, serei eu mesmo uma sombra e não um ser vivo, que gosta e desgosta, que é a favor ou contra, que ama ou odeia, e que usa a sombra (que não tem emoções) para provocar emoções.
Fotografar é reagir emocionalmente a sombras (que não têm emoções).
Fotografar é usar as sombras (que não têm emoções) para provocar emoções.
Uma sombra não tem emoções! Um fotógrafo tem!

Se um fotógrafo não tiver emoções perante uma sombra (que não tem emoções), será ele mesmo uma sombra de um fotógrafo!

By me 

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