sábado, 22 de maio de 2010

Roda e sapato


Alguns há que me perguntam por que raio fotografo eu tantos sapatos abandonados na rua.
Não se trata de nenhum fetiche nem nenhuma mensagem subliminar.
Acontece apenas que o calçado é um daqueles objectos pessoais que se tornam particularmente íntimos, depois de pé e sapatos ajustados mutuamente. E que tenho grandes dificuldades em me livrar daqueles que, por este ou aquele motivo, deixaram de ser usados.
Por outro lado, em olhando para um sapato (bota, chinelo, pantufa, o que quer que seja) assim solitários e sem préstimo, fico cogitando sobre o que ele já terá vivido, os caminhos que já terá percorrido, as bolas ou rabos que já terá pontapeado, as águas ou areias que já terá pisado…
Um sapato abandonado permite uma miríade de pensamentos, podendo ser tão eloquente quanto um bom romance ou completa enciclopédia. Basta, para tal, conseguir abrir a alma e deixar a imaginação voar.

Texto e imagem: by me

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