segunda-feira, 24 de maio de 2010

Absurdos


Ao jornalista, para além do direito de informar, sobrevêm outros direitos e deveres. Estão estes, na sua maioria, bem definidos no código deontológico e cujo conhecimento é obrigatório para a obtenção da respectiva carteira profissional. Ou deveriam ser.
Do somatório dos direitos e deveres, bem como do exercício da profissão, advém uma responsabilidade particularmente grande. O que é dito ou divulgado nos órgãos de comunicação social é tido pelo público como verdade. No conteúdo e na forma.
Esta responsabilidade deverá levar cada um dos jornalistas, bem como as organizações ou empresas para que trabalhem, a garantir que forma e conteúdo não faltam à verdade: A verdade factual e a verdade da língua.
Lamentavelmente esta última é frequentemente aviltada, com incorrecções gramaticais, significados deturpados, invenções de termos e expressões que, supostamente, serão eruditas, mas que, na verdade, não passam de idiotices de grosso calibre.
Uma dessas expressões é a “Imprensa escrita”. Caramba! Ainda não encontrei em parte alguma uma prensa, clássica ou resultado do último grito da tecnologia, que não tivesse como resultado a escrita. Esta expressão absurda surge na sequência da enormidade de se querer englobar no termo “imprensa” todos os meios de comunicação social, jornais, rádios, TVs e web. E, ao precisar com o termo “escrita”, reduzir o conceito a jornais e/ou revistas.
Mais que absurdo, e porque é suposto o jornalista ser verdadeiro na forma e no conteúdo, vai o público menos avisado no embuste, passando a considerar que “imprensa escrita” será uma expressão correcta.
Mas uma outra expressão há que me faz “saltar a tampa”:
“Anúncio publicitário”!
Qualquer dicionário, em papel ou outro suporte, informará quem tiver dúvidas que as duas palavras são sinónimos. Com pequeníssimas variações, os seus significados são iguais. Donde, dizer “anúncio publicitário” é tão absurdo quanto o clássico “entrar para dentro”!
Aquilo que se pretende dizer com tamanha baboseira é que se trata de um anúncio de índole comercial, em oposição aos anúncios governamentais, particulares ou institucionais. Haverá os anúncios de casamento, os anúncios de exposições, os anúncios de concursos públicos. Mas, muito naturalmente, são também publicidade, já que o seu objectivo é o de tornar público o seu conteúdo.
Outra “pérola”, ouvida ontem e repetida apesar do aviso, foi o de ter havido um incêndio num cruzeiro. Fiquei na dúvida se se trataria do Cruzeiro do Sul, se do Cruzeiro que embeleza uma das rotundas da minha freguesia ou se o trajecto de uma barco de passageiros.
Afinal, tratava-se tão só de um navio de cruzeiro, atracado num porto. Confundir “Navio” com “Cruzeiro” é um pouco como confundir “automóvel” com “estrada”.

Não pretendo, com estas observações, transformar-me em paladino da língua Portuguesa. Ela é coisa viva e evolutiva e agarrarmo-nos a conceitos académicos é por demais conservador para o meu gosto.
Mas não dou o direito à classe de jornalistas, seja qual for o suporte que usem, de a adulterarem e, com isso, levarem o cidadão comum a usar como certo os disparates que proferem ou escrevem certos escribas.
Ser jornalista, mais que um direito, é uma prerrogativa. Que não pode ser abastardada como temos vindo a constatar a cada dia que passa!

Texto e imagem: by me

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