sexta-feira, 14 de maio de 2010

Egoísmos


É daquelas coisas que me fazem sair do sério e perguntar que futuro os cidadãos esperam ter.
Junto dos contentores de lixo aqui da minha rua vejo este carrinho de bebé. Pelo que me foi dado a apreciar, encontra-se em muito bom estado de conservação, não estando nem partido nem roto.
O ter sido ali colocado pode ter tido como origem o seu passageiro ter crescido o suficiente para já dele não necessitar. O que quem o empurrava ter optado por um outro maior ou melhor. Ou ainda que a criança já por cá não esteja para nele ser transportado.
Em qualquer dos casos, colocar um carrinho de bebé no lixo significa que já não faz falta. Mas… não faz falta a quem?
Olhando para os preços deste e outros artigos de bebé, vemos que são caros ou, pelo menos, bastante dispendiosos. Um valor a somar ao muito que é necessário gastar com um filho.
Pergunto eu porque carga de água não foi este carrinho de bebé, em vez de colocado no lixo, entregue a uma das muitas organizações, religiosas ou não, que dão apoio a quem dele necessita?
As condições económicas actuais não são de molde a incentivar a procriação. Bem pelo contrário. E muitos são os que, perante a possibilidade de ter um filho, ou mais um, ponderam o equilíbrio entre o que recebem como salário e aquilo que poderão ter para a criança. E recuam!
Um carrinho de bebé, ofertado ou mesmo a preço pouco mais que simbólico, será uma despesa a menos para quem hesita ou já está confrontado com um filho e com parcos rendimentos.
Acrescente-se que vivemos num país em que a taxa de nascimento é reduzida e em que a perspectiva de futuro da sociedade não é brilhante, bem pelo contrário.
Aquele ou aquela que jogou fora este carrinho de bebé será, certamente, aquele ou aquela que, daqui por quarenta anos, se queixará por ter uma reforma baixíssima, que clamará por apoios sociais, que se queixará por a sociedade estar mais e mais egocêntrica. O que, aliás, já vai acontecendo nos tempos que correm.
Mas esse ou essa mesma não se recordará que, agora, em tendo a oportunidade de ajudar o próximo, de ser solidário, e que, displicentemente, jogou fora um carrinho de bebé que poderia ter feito a alegria e conforto de uma criança e seus pais.
Tenho pena de não saber quem o fez, para ter com ele ou ela uma conversinha cá das minhas!

Texto e imagem: by me

3 comentários:

Anónimo disse...

Penso que foi o que de melhor o dono se lembrou, para que o carrinho fosse aproveitado por outrém - não o jogar dentro do caixote, mas deixá-lo cá fora, visível, limpo, apetecível.
Como se vê, eu era capaz de fazer isso...

Bispo

Luísa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luísa disse...

Mas e se começar a chover antes de alguém levar o carrinho? Ou se um pássaro ou um cão resolverem fazer do carrinho a sua casa de banho? Poucos haverá que o queiram aproveitar. Depois há sempre o peso da vergonha de apanhar algo (mesmo que em muito bom estado) do caixote do lixo que acaba por vencer a necessidade.
Estou mais de acordo com o autor do post. Deveria ter sido entregue numa instituição ou numa junta de freguesia ou numa igreja. Há inúmeros sítios onde se pode deixar este tipo de artigos. O problema é que dá muito trabalho. As pessoas são preguiçosas, é mais fácil deixar junto ao primeiro contentor do que ir à junta de freguesia...
Quanto às futuras reformas (se elas ainda existirem)... as pessoas não pensam, é tudo para o imediato, para hoje, sem fututo, sem perspectivas. Chapa ganha, chapa gasta, depois logo se verá...
Mentalidade que tem que ser mudada. Se assim não mudar, muita gente vai sofrer ainda mais do que já se sofre em Portugal.
(Peço desculpa pelo tamanho do comentário, mas estas coisas também mexem comigo.)