quarta-feira, 2 de julho de 2008

Trinta anos


A primeira vez fica indelével na memória! O primeiro beijo, o primeiro tiro, a primeira aula.
Algumas vamos repetindo ao longo da vida, por hábito ou por prazer, procurando na repetição a continuidade ou a inovação. Outras nunca passam da primeira vez, por falta de oportunidade ou por decisão solene.
Mas, seja bom ou seja mau, a primeira vez nunca se esquece!

Aquele dia, faltavam menos de dois meses para completar vinte anos, foi exactamente há trinta anos. Completam-se hoje!
Cruzei aquele portão como um homem diferente, já que era o primeiro dia do resto da mina vida. E, de então para cá, passei a ser um técnico de televisão, com tudo o que de bom e de mau isso significou e significa.
Foram trinta anos de orgulho e satisfação em levar o mundo, ou parte dele, a casa de cada um e, com isso, contribuir para a transformação da sociedade.
Foram trinta anos de vergonha e culpa por a parte do mundo levada a casa de cada cidadão ser uma parte subjectiva, objecto e sujeita a critérios nem sempre os mais transparentes, com as quais nem sempre consigo conviver tranquilamente.
Mas este ter colaborado em algumas mais ou menos dissimuladas manipulações da opinião pública fica num patamar logo abaixo em importância a outras situações realmente importantes de que me encho de orgulho e satisfação por serem do meu currículo. Rua Sésamo, missas dominicais, Salgado, Buarque e Saramago juntos e ao vivo, só para dar alguns exemplos.
Feito o balanço, estes trinta anos de cumprir horários, respeitar (mais ou menos) hierarquias, mostrar e suportar o fétido de certas mentalidades e personalidades, até que nem foram tão maus quanto isso. Amachucados e com muitos sapos engolidos, volta e meia lá foram acontecendo alguns bombons dentro da pratinha, mais ou menos como antes de ingressar no “mundo dos adultos” e passar a ser um assalariado televisivo.
Parabéns a mim por ter aguentado todos estes anos! E ter conseguido não ter sido completamente corrompido pelo sistema!

2 comentários:

perplexo disse...

Parabéns, que nem sempre é fácil. Mas também não devemos suportar sozinhos o peso de uma responsabilidade colectiva.
Abraço
que me lembraste esses tempos!

Anónimo disse...

Muitos parabéns pelos seus 30 anos de carreira.