domingo, 20 de julho de 2008

Pregar no deserto ou no Shoping


Eu sei que tenho boca grande e que vou protestando quando posso e seja qual for o âmbito do protesto, desde que me sinta incomodado. Foi o caso um destes dias.

Um centro comercial tem, na sua entrada, este painel luminoso onde se exibem algumas notícias seleccionadas de alguns jornais. Sendo que o acesso ao centro é através de uma rampa mecânica descendente, há sempre algum tempo para ler o que por lá aparece, mesmo que referente ao futebol, que é coisa que pouco me interessa.
E, nesse dia e ainda que identificado com o “Jornal Económico”, dou com o que aqui se pode ler: “O Quaresma foi REITEGRADO”.
Seja quem for o Quaresma e a sua actividade profissional, consegue fazer uma coisa que desconheço por completo: “REITEGRAR”.
Se fosse “Reintegrar” ou “Reiterar” eu ainda entendia, pese embora pouco saber de bola e supor que, por Dragão, não se referem ao de Komodo. Agora este verbo, desconheço por completo.
Entendi que não seria das coisas mais abonatórias para o espaço comercial, o ter isto mesmo por cima da porta principal, e agi! Dirigi-me à recepção e expus a questão à jovem e simpática senhora que ali se encontrava. Que, solicitamente, tratou de me impingir um impresso para que eu preenchesse com a minha reclamação.
E eu, que entendi que não teria que ter esse trabalho, disse-lhe que o recado estava dado e que tratassem do assunto, já que era uma questão mais do interesse deles que do meu.
Estava eu nesta quando surgiu um vigilante que, do alto da sua importância, quis saber de que se tratava. E que me fez saber ser eu o errado, já que ali apenas se publicitava o que os jornais lhes enviavam e que estes estavam sempre certos.
Passei-me para além da minha tranquilidade e, pela primeira vez na vida, fui comprar um jornal desportivo, que continha o assunto referido na primeira página. E que, como eu sabia, usava o verbo “Reintegrar”. E exibi-o qual troféu, ao façanhudo vigilante que, nem assim, desceu da sua importância e autoridade.
Mas como a sua atitude altaneira não me chegava sequer aos calcanhares, dei o assunto por quase encerrado. Faltou-me apenas, e que fiz, desfazer-me do jornal e fotografar o painel, senão pela piada, pelo menos como documento.

Dois dias passaram e regresso ao centro comercial em causa. E qual não é o meu espanto quando constato que continua a ser exibida a mesma notícia com o mesmo erro ou gralha. Requentadas ambas com mais de quarenta e oito horas com o apodo de manchetes. A menos que, dois dias depois, nenhum outro jornal se tenha publicado cá no burgo. Sobre futebol ou o que quer que seja.
Que o vigilante fosse desabrido comigo e que, sub-repticiamente, me chamasse ignorante, ainda aceito. Afinal, eu e ele não jogamos no mesmo campeonato, futebolística ou culturalmente falando.
Agora que nada tenha sido feito para corrigir esta asneira na língua portuguesa é que já me custa. Não apenas dá uma péssima imagem, para quem reconheça o erro, do espaço comercial, como, e o que é pior que tudo o resto, induz em erro quem não o reconheça, aceitando-o como certo e passando a usa-lo.
Uma vez mais reclamei junto da recepção/informação. Mas acredito que de igual forma inutilmente, ainda que a cara simpática que me atendeu tenha tido a cordialidade que dela e da função se espera. Mas nem uma anotação tomou, ou chamou alguém para o fazer. Suspeito que, por aqui, “RP” signifique “Reacções à posteriori”, que cumpram o lema à risca e bem à posteriori.
Quanto ao resto…
Quanto ao resto farei questão de publicitar este caso onde posso e junto de quem conheço. Afinal, se há património que este país possua e que não tenha sido corrompido pelas regras Europeias é a língua. E maltrata-la desta forma, a troco de coisa nenhuma é coisa que não aceito de braços cruzados!

Nota final: O espaço comercial em causa tem o nome de “Galeria Comercial Campo Pequeno” e fica em Lisboa.

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