quarta-feira, 9 de julho de 2008

A medalha


Pedagogia. Aquela palavra que anda na boca de muitos e que poucos conhecem o verdadeiro significado. Menos ainda, talvez, se recordarão da antiguidade, dos escravos-pedagogos e das suas obrigações.

O caso passa-se num jardim de Lisboa. Era domingo, o clima prazenteiro e, sendo já Julho, com um forte cheiro a férias.
Os que usufruíam do espaço verde e da frescura das suas sombras eram bastantes. Acrescidos pelos que, atraídos pela curiosidade ou desejo de negócio de ocasião, ali foram ver a feira de artesanato e velharias.
As forças da ordem, sabendo deste ajuntamento espalhado, destacaram um cívico para o patrulhar. Pertencia à Policia Municipal e, quer fosse por uma questão de economia de esforço, quer fosse devido à visibilidade assim obtida, atribuíram-lhe um desses noveis carro movidos a electricidade que, recentemente, temos visto pela zona velha da cidade.
Pois este agente, não altamente graduado se bem soube eu ler as divisas que ostentava nos ombros, fez bastante mais que apenas o giro e, com a sua presença e visibilidade, afastar ou dissuadir carteiristas ou mal-feitores em geral:
Metendo conversa com a canalha miúda, mostrava-lhes o insólito carro e convidava-os a partilharem da sua tarefa de circular e vigiar. E, antes do inicio do passeio, lá lhes explicava algo sobre o veículo, funcionamento e uso do cinto de segurança, que todos os passageiros iam pondo.
E era vê-los, aos pequenotes, com um sorriso de orelha a orelha, alguns vencendo a custo a timidez, ali sentados, enquanto aquele agente, de trinta e três anos, fazia andar em silencio o carro ecológico.
Neste pequeno passatempo, que também serviu para quebrar a monotonia do seu trabalho, foi ele bem mais longe que muitas aulas e sermões pregados no ensino básico.
Os agentes policiais são gente como todos, ainda que uns mais simpáticos que outros, e certamente que não são aqueles monstros perseguidores e opressores que por vezes deles fazem. E foi, garantidamente, esta a opinião que a miudagem levou para casa e para contar aos amigos.
A melhor publicidade não é a das campanhas e dos media. É a opinião que cada um passa ao seu semelhante sobre as suas vivências e proveitos. E esta foi, pela certa, uma das experiências positivas que cada um dos pequenotes teve neste fim-de-semana.
Fica o bom exemplo e a modéstia deste cívico que, ao ser questionado sobre o que deveria eu escrever para definir o seu ofício, me pediu que usasse a expressão “Funcionário público”.

A minha medalha, por bons serviços prestados, para o funcionário público António.

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