sexta-feira, 2 de maio de 2008

Dá que pensar: imagem da justiça

Há uns meses o servidor do Photoblog esteve com problemas de acesso. Abrir uma página era um tormento, colocar um post quase uma impossibilidade.
Vai daí, e sendo que o ir pondo pensamentos e imagens na web se tornou quase um vício, decidi abrir um outro espaço virtual: este.
Acontece que o blogspot não facilita de origem um contador de visitas, pelo que havia que inserir um. E decidi-me pelo Sitemeter. Que me vai dando informações não apenas das visitas como das suas origens em termos de países, cidades, língua nativa e mais umas coisitas. E qual a forma de acesso de cada visita, se uma ligação directa se usando um link de outra página. E é aqui que a coisa se torna engraçada.
É que tenho um post ali colocado que é um campeão de visitas, com uma média de duas visitas por dia, apesar de já lá estar há algum tempo.
O link de origem é o Google, o país é o Brasil e as palavras usadas na pesquisa dos visitantes são “imagem” + “justiça” ou “imagem” + “direito”.
Torna-se curioso a existência de tanta gente em busca de imagens em torno deste conceito abstracto: justiça. Até porque eu mesmo, volta e meia, faço a mesma procura para ilustrar algum dos meus posts. E mais curioso ainda quando se constata que são originários do Brasil.
E o que se encontra, nas buscas que tenho feito com este tema, são estereótipos, como a clássica balança de pratos iguais, segura por uma mulher de olhos vendados e com uma espada na outra mão. Ou o martelo de madeira, típico dos tribunais norte americanos. Estereótipos!

E isto, as figuras padrão espalhadas pelo mundo (ou quase) e a procura que muitos outros fazem de imagens com este tema, leva-me a pensar se será possível ilustrar ou criar uma imagem deste conceito. Ou criar uma outra imagem que não estas.
Começando pelo facto de as leis serem diferentes de zona para zona. Na forma e na origem. Continuando na noção que cada cidadão tem de justiça, em função das culturas e dos interesses individuais. Passando pelo conceito que “justiça” implica “punição” ou “reparação”, seja esta atribuída à vítima individual, corporativa ou à sociedade no seu todo. E ainda pelo conceito em que os avaliadores da justiça, bem como dos seus executores, não têm rosto ou nome quando o fazem, que as suas decisões não dependem de si mesmos mas antes da vontade do grupo que a concebe e que a legisla.
Assim, qual será a imagem ou ícone que, cobrindo todo o globo, representa a justiça? Porque os ícones, mesmo que referentes a temas abstractos, costumam ser consensuais. O “amor” pelo coração, que palpita aquando da paixão; A raiva ou inveja pelo verde ou roxo, cor que assume o rosto de quem a sente…
Mas a justiça não é universal no seu conceito ou origem. Que se a ocidental se baseia no velhinho direito romano e numa outra abstracção a que se dá o nome de “sociedade”, já a islâmica, por exemplo, baseia-se no conceito de Deus ou de Divindade, sendo estes os legisladores e juízes supremos. E, entre os seguidores do Islão, à mulher não é dada importância suficiente para poder ser a representação da vontade divina.

Qual será, então, a imagem possível e abrangente, de justiça? Também não o sei!
Mas sei que também dá para pensar, o facto de haver tantos cidadãos do Brasil em busca desta imagem. E não ter acontecido ainda, com o mesmo tipo de procura e resultados, com cidadãos de Portugal.
Estarão as gentes de “Terras de Vera Cruz” mais preocupados com a questão? E, se o estão, deve-se a uma maior consciência social, a uma maior utilização da web ou com mais problemas neste campo que os Lusos?
Acredito que os sociólogos ligados à justiça possam ter respostas para isto. Que eu não as tenho.
E, até as encontrar, continuarei a tentar encontrar ou criar imagens de justiça. Ainda que, nos tempos mais recentes, tenha optado por ilustrar os meus textos com imagens específicas dos temas tratados e não tanto sobre a abstracção.
Mas se tiver que pensar em alguma, talvez que apenas branco, sem forma ou sombras, possa servir o efeito. A pureza, a ausência de mácula, de pecado ou crime… Uma abstracção igualmente!

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