terça-feira, 6 de maio de 2008

Negócios


A história é simples e, para além dos pormenores, banal.
Abriu há quase cinco anos. Mesmo encostado à estação de comboios, tinha cafés e bolos, refeições muito simples e pão quente, feito no local. E simpatia, muita simpatia.
Talvez porque três das quatro paredes fossem de vidro, o local convidava a entrar e estar, não fora ficar em local de pressa no caminho do trabalho ou de pressa no regresso a casa. Tinha ainda um pequeno detalhe ou truque comercial com muita graça e originalidade: o relógio de parede, atrás do balcão, estava invariavelmente adiantado uns quatro a cinco minutos em relação aos comboios. Quem quer que por ele se orientasse para viajar nunca perdia a composição prevista. Truques!
Mas se no início se fazia fila para se ser atendido ao balcão, nos últimos tempos as coisas foram mudando e as mesas foram ficando vazias, ocupadas ocasionalmente por aqueles que pagam, com o preço de um café, o direito a estar sentados e ver quem passa.
Um destes dias dei com a porta fechada. E com os vidros tapados, por dentro, com folhas grandes de papel. E este anúncio, avisando do encerramento e próxima reabertura. E fui forçado a “cafezar” noutro poiso no caminho do trabalho!
Acontece que, entretanto, encontrei uma das empregadas. A mais dinâmica e que, suponho, tivesse a função de ir gerindo o local na ausência dos patrões. Que vim a saber serem quatro.
E sobre quem vim também a saber que avisaram as empregadas na véspera da consumação dos factos. E sem nenhuma indemnização. O acerto de contas ficou-se pelo mês vencido, apesar de todas terem mais de quatro anos de casa. Nem mesmo um pré-aviso confortável! Assim! Literalmente de um dia para o outro!
E quando confrontei a minha interlocutora com a possibilidade e o direito de reclamarem junto da justiça daquilo que é delas por contrato e por lei, surpreendeu-me com esta resposta:
Para quê?! O assunto fica resolvido, se ficar, daqui por uns dois ou três anos. E eu preciso da estabilidade e do dinheiro é agora! Que o meu futuro e o do meu filho se faz dia a dia! E, seja como for, não me faltará com que viver! Que Deus tem mais para dar que o Diabo para tirar!
Este fatalismo, esta descrença na justiça, aliada a uma atitude de submissão pela condição de emigrante, faz com que muitos empresários se aproveitem. E que explorem até ao tutano quem deles precisa para viver. Com uma impunidade imoral!
Há quem chame a isto “capitalismo desenfreado”! Eu diria que é a metade má da flexigurança que os nossos governantes apregoam.

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